sábado, 1 de junho de 2024

Escrita feminina (análise)

 Desconstrução de estereótipos na escrita feminina, através de leituras de autoras feministas, até a música “Desconstruindo Amélia” da cantora/ compositora Pitty Leone.

Thamires Santos Souza[1]

 

Introdução

Quando comecei a ler sobre a importância e a relevância da escrita feminina, fiquei impressionada com o quão isso me tocou. Como mulher, sei em primeira mão como pode ser difícil fazer com que a voz seja ouvida e as opiniões valorizadas numa sociedade que muitas vezes reforça estereótipos[2] e limitações de gênero. Mas através da escrita, encontrei uma forma de expressar autenticamente e desafiar as expectativas sociais que foram impostas.

Neste ensaio, vou aprofundar o impacto da escrita feminina na quebra de padrões pré-estabelecidos e permitir que as mulheres encontrem as suas vozes únicas através da expressão literária. Explorarei os clichês que estão frequentemente presentes na escrita feminina e examinarei como as escritoras estão a desafiar e a libertar-se dessas limitações. Acredito que, ao fazê-lo, as escritoras são capazes de abrir a porta a uma maior diversidade na escrita narrativa e na representação das mulheres.

Como exemplo, vamos analisar a música "Desconstruindo Amélia" da cantora e compositora brasileira Pitty Leone, juntamente com as obras literárias discutidas nas aulas ministradas pela Professora Doutora Adriana Abreu e pela doutoranda Pollyana Lima. Através dessas obras, vamos explorar como a quebra de concepções errôneas nas artes pode abrir caminho para uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.

Desconstrução de estereótipos na escrita feminina

Com o uso da escrita, as mulheres têm a oportunidade de desafiar e questionar os estereótipos de gênero[3] que existem na sociedade. Elas podem explorar uma variedade de temas e perspectivas, rompendo com as expectativas tradicionais e oferecendo narrativas mais diversas e autênticas.

A escrita feminina pode abordar questões como identidade, sexualidade, maternidade, relacionamentos e muito mais, de maneiras que desafiam as normas culturais e sociais. Essa forma de expressão literária é uma poderosa ferramenta para combater a desigualdade de gênero e promover a igualdade, permitindo que as mulheres compartilhem suas histórias, experiências e visões de mundo, ao desconstruir padrões na escrita feminina, as autoras podem desafiar a ideia de que as mulheres devem se encaixar em determinados papéis ou comportamentos predefinidos. Elas podem criar personagens femininas complexas e multifacetadas, que não são restritas por concepções errôneas limitantes. Além disso, a escrita feminina pode revelar as diversas vozes e perspectivas das mulheres, contribuindo para uma representação mais justa e inclusiva na literatura e na sociedade como um todo. Deste modo, a desconstrução de estereótipos na escrita feminina é uma forma poderosa de empoderamento e resistência, permitindo que as mulheres se expressem livremente e desafiem as normas de gênero impostas pela sociedade.

                           

A desconstrução de estereótipos culturais e sociais na luta feminista: o papel da literatura e da música

A literatura feminina tem sido um meio de desafiar e desconstruir generalizações culturais há séculos. Autoras habilidosas Bell Hooks, Simone de Beauvoir, Marina Colasanti, Adriana Abreu, Virginia Wolf, criaram personagens femininas complexas e multifacetadas, que desafiam as expectativas do que uma mulher “deveria” ser. Essas representações ampliam o olhar para o que significa ser mulher e colocam em cheque as noções convencionais de gênero. Além disso, essas obras são importantes exemplos de como a escrita pode ser uma ferramenta para a libertação das mulheres, permitindo que as mulheres sejam representadas de forma autêntica e, assim, criarem novos modelos e possibilidades no mundo

Ao longo da história, a produção artística literária e a música foram predominantes nas mãos dos homens, o que resultou em uma falta de representações femininas e em uma falta de vozes femininas na sociedade. Isso se aplicava tanto à literatura quanto à música, onde as mulheres muitas vezes eram invisíveis ou reduzidas a um papel secundário. No entanto, o movimento feminista foi responsável por lutar pela desconstrução de concepções errôneas de gênero e aumentar a presença das mulheres na produção artística.

Autoras como Simone de Beauvoir e Bell Hooks desempenharam um papel fundamental nessa luta. Em "O Segundo Sexo", Beauvoir questionou as noções tradicionais de gênero e argumentou que elas eram baseadas em generalizações culturais e sociais que limitavam a liberdade e a igualdade das mulheres. Embora Simone nunca tenha declarado explicitamente que as suas obras se destinavam a fins feministas, ela é frequentemente associada à filosofia feminista. Os seus escritos exploraram as formas como as mulheres têm sido historicamente oprimidas e as estruturas sociais que contribuíram para a sua subjugação. Defendia que o gênero não era uma caraterística natural, mas sim uma identidade socialmente construída, e que os indivíduos deviam poder definir as suas próprias identidades e papéis na sociedade. Além disso, Simone era uma defensora dos direitos reprodutivos das mulheres e defendia a importância de as mulheres terem controlo sobre os seus próprios corpos.

"Não se nasce mulher, mas torna-se mulher" - Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.

Em "Ensinando a Transgredir", Bell Hooks criticou a educação tradicional e defendeu a importância da interseccionalidade na luta pelo fim da opressão. Ambas defenderam a ideia de que a desconstrução de concepções errôneas de gênero é essencial para alcançar a libertação feminina e a construção de uma sociedade mais igualitária.

"O primeiro passo para a criação de um mundo novo e melhor é desmantelar o sistema cultural e económico em que vivemos e apontar as suas falhas" - Bell Hooks, Teaching to Transgress.

No contexto da música, a presença das mulheres tem crescido cada vez mais, o que tem sido um fator importante para a desconstrução de preconceito de gênero. Pitty Leone é uma figura significativa neste sentido, com sua música "Desconstruindo Amélia", ela desafia os preconceito de gênero e inspira muitas mulheres a fazer o mesmo. Por meio de sua música, Pitty oferece uma nova representação da mulher e uma mensagem poderosa de libertação e igualdade.

A desconstrução de clichês culturais e sociais tem sido um fator crucial para a luta feminista e para alcançar a igualdade de gênero na sociedade. Desde a luta por representações mais autênticas na literatura, ao aumento da presença feminina na música, essa luta tem trazido importantes conquistas para a causa feminina. A música "Desconstruindo Amélia" de Pitty Leone, é um exemplo poderoso de como as mulheres podem lutar contra generalizações culturais e sociais.

Com o avento das próximas décadas e os estudos discursivos nossa sociedade passa por um período de mudanças e isso que podemos observar na canção “Descontruído Amélia”, onde as condições de produção já traz para o texto discursos que aos poucos estão sendo debatidos em nossa sociedade, pois a mulher já não mais aceita os padrões impostos a ela, assim ela vai em busca da liberdade negada.
 

DESCONSTRUINDO AMÉLIA”[4]

Já é tarde, tudo está certo

Cada coisa posta em seu lugar

                                                                                                Filho dorme, ela arruma o uniforme                                                             

Tudo pronto pra quando despertar

O ensejo a fez tão prendada

Ela foi educada pra cuidar e servir

De costume, esquecia-se dela

Sempre a última a sair

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar (Uhu!)

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar (Uhu!)

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o outro

Hoje ela é um também

A despeito de tanto mestrado

Ganha menos que o namorado

E não entende porque

Tem talento de equilibrista

Ela é muita, se você quer saber

Hoje aos 30 é melhor que aos 18

Nem Balzac poderia prever

Depois do lar, do trabalho e dos filhos

Ainda vai pra night ferver

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar (Uhu!)

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar (Uhu!)

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o outro

Hoje ela é um também

Uhu, uhu, uhu

Uhu, uhu, uhu

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar (Uhu!)

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar (Uhu!)

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o outro

Hoje ela é um também

 

No ano de 1970, as Nações Unidas instituíram o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher[5], uma data para celebrar as conquistas dos movimentos feministas e reivindicar igualdade de direitos para as mulheres em todas as esferas da vida. Com os avanços na sociedade, a mulher deixou de se dedicar exclusivamente à família, alcançando autonomia e empoderamento. No entanto com advento das causas feministas a luta das mulheres está apenas começando pois há muito a se fazer para equilibrar a rotina para que nós não sejamos sobrecarregadas.

“Como mulher, não tenho pátria. Como mulher, não quero um país. Como mulher, o meu país é o mundo inteiro" - Virginia Woolf.

A letra da compositora/cantora Pitty são atuais manifestos; a cantora baiana sempre usou a música para questionar normas e provocar o pensamento crítico e reflexões sobre temas como sexíssimo, machismo, depressão e autoaceitação.

Na música “Desconstruindo Amélia”, Pitty procura romper com o estereótipo da Amélia que era “mulher de verdade” de outros tempos, pois está surgindo uma nova mulher do XXI, na letra ela conta a história de uma mulher multitarefas, que mesmo estando sobrecarregada um dia resolve “vira a mesa e assumir o jogo”, lutando pelo protagonismo da própria vida.

Começando pelo título “desconstruindo Amélia” referindo-se a uma desconstrução, ato de rompimento com padrões conservadores estabelecidos, e que é necessário reconstruir a mulher para rompimento dos padrões que são impostos socialmente a mulher.

Já é tarde, tudo está certo

Cada coisa posta em seu lugar

Filho dorme, ela arruma o uniforme

Tudo pronto pra quando despertar

A canção começa por descrever os tradicionais papéis multitarefa[6] das mulheres, como a personagem "Amélia", que está simbolicamente ocupada com as tarefas domésticas. Apesar da hora do dia, continua a ter tarefas a cumprir, assegurando que tudo está bem organizado para o bem-estar do seu filho. A canção critica implicitamente a noção prevalecente de que as tarefas domésticas são da responsabilidade exclusiva das mulheres, ignorando o fardo esmagador que esta expetativa impõe às mulheres. Além disso, as mulheres têm sido frequentemente obrigadas a conciliar as responsabilidades domésticas com a sua vida profissional, perpetuando as desigualdades sistémicas e limitando as oportunidades de atingirem o seu pleno potencial.

O ensejo a fez tão prendada

Ela foi educada pra cuidar e servir

De costume, esquecia-se dela

Sempre a última a sai

As alegações que tentam retira o empoderamento da mulher [7]continua. A autora critica a forma como as mulheres são moldadas para se enquadrarem num papel de cuidadoras domésticas, com a expectativa de que devem primeiro garantir que tudo na casa está organizado e limpo para satisfazer os outros. Isto deixa-lhes pouco tempo para se concentrarem nas suas próprias necessidades, sendo a mulher muitas vezes a última a preparar-se. Isto realça a divisão desequilibrada e sexista do trabalho doméstico, resultando na exploração do trabalho doméstico das mulheres.

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar

 

Neste ponto surgir Amélia moderna, libertando-se do conformismo e colocando-se em primeiro lugar. Decide abandonar a sua identidade anterior de cuidadora altruísta, rejeitando o papel subserviente da personagem "Amélia sem vaidade" e, em vez disso, abraça uma identidade mais amorosa. Ao dar prioridade às suas próprias necessidades e desejos, rejeita a noção de que o seu valor está ligado ao cumprimento das expectativas sociais de feminilidade.

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o Outro

Hoje ela é Um também

Os papéis de gênero são enfim quebrados, aqueles que são atribuídos a nós mulheres. Nesse verso “Já não quer ser o outro, hoje ela é ‘Um’ também” faz referência a um conceito formulado por Simone de Beauvoir no livro Segundo Sexo, no qual ela discorre sobre a posição da mulher na sociedade, na posição de Outro do homem, sendo ela um ser humano incompleto comparado ao homem e a partir do seu olhar. Porém logo que tornando-se “Um” a mulher não é mais limitada aos papéis a ela atribuída por uma sociedade patriarcal, machista e misógina, ela torna-se dona de si mesma.

 

A despeito de tanto mestrado

Ganha menos que o namorado

E não entende o porquê

Tem talento de equilibrista

Ela é muitas, se você quer saber

Nesta estrofe da canção, a crítica é dirigida aos salários persistentemente mais baixos pagos às mulheres em comparação com os dos homens. Os movimentos feministas há muito que se debruçam sobre esta questão, mas, apesar dos progressos, ainda há muito espaço para maiores avanços. A canção também critica a tripla carga que as mulheres enfrentam, uma vez que são frequentemente responsáveis por trabalhar fora de casa, cuidar das suas famílias, gerir as tarefas domésticas, incluindo as compras de mercearia e as limpezas, bem como arranjar tempo para si próprias. A letra chama a atenção para o facto de que, mesmo com o progresso, ainda existem questões sociais profundamente enraizadas que contribuem para o tratamento desigual das mulheres em vários aspectos da vida.

Hoje aos 30 é melhor que aos 18

Nem Balzac poderia prever

Depois do lar, do trabalho e dos filhos

Ainda vai pra night ferver

Disfarça e segue em frente

Recorrendo à intertextualidade, a compositora comentam as transformações socioculturais vividas pelas mulheres nas últimas décadas. Faz referência ao romance de Honoré Balzac "A Mulher de Trinta"[8], que discute como uma mulher com mais de 30 anos era considerada velha e já não era desejável no século XIX. No entanto, a compositora argumenta que já não é assim, uma vez que as mulheres na casa dos 30 anos têm atualmente tanta vitalidade como quando tinham 18 anos. Isto realça a importância de desafiar os papéis e expectativas tradicionais de gênero que muitas vezes limitam todo o potencial das mulheres. Balzac escreveu no seu romance, "A divindade que molda os nossos fins é feminina. Quando considero o vigor que anima o corpo de uma mulher, a inteligência que ilumina a sua mente, o espírito que dirige as suas ações, não consigo encontrar nada de masculino nela." Este excerto sublinha a necessidade de reconhecer e valorizar as forças inerentes às mulheres, em vez de as enquadrar em construções sociais limitadas.

Simone de Beauvoir escreveu, "Um homem nunca é definido como um indivíduo de um determinado sexo; é evidente que é um homem. Os termos 'masculino' e 'feminino' são usados simetricamente apenas como uma questão de forma, como em documentos legais. Na realidade, a relação entre os dois sexos não é exatamente como a de dois pólos eléctricos, pois o homem representa tanto o positivo como o neutro, como o indica o uso comum de homem para designar os seres humanos em geral; enquanto a mulher representa apenas o negativo, definido por critérios limitativos, sem reciprocidade". Esta ideia sublinha os preconceitos de gênero generalizados que ainda existem hoje em dia e recorda-nos a necessidade permanente de lutar pela igualdade de gênero e pela capacitação.

Do meu ponto de vista, o uso da intertextualidade é uma forma influente de escritores e artistas comentarem a mudança de papéis e expectativas das mulheres na nossa sociedade. Ao tecer referências a obras como "A Mulher de Trinta", de Balzac, e "O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir, recorda-nos os padrões e preconceitos de gênero que ainda hoje existem. É importante reconhecer como estes padrões podem limitar o potencial das mulheres e desafiar as normas tradicionais de gênero para capacitar os indivíduos independentemente do seu gênero.

Acredito que a chave para alcançar a igualdade de gênero reside no reconhecimento e na valorização das forças e do potencial inerentes a todos os indivíduos, independentemente do seu gênero. Temos de lutar por uma sociedade mais justa e equitativa, onde os indivíduos sejam livres de perseguir os seus objetivos e sonhos sem medo de discriminação ou de normas sociais limitadoras. É uma longa jornada, mas sinto-me encorajado pelo progresso que fizemos até agora e pelos esforços contínuos de indivíduos e comunidades em todo o mundo que estão a trabalhar para um futuro mais igualitário e justo.

 

Todo dia até cansar

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o Outro

Hoje ela é Um também

 

 

Desse modo, atingimos o famoso conceito de desconstrução. A música superou os costumes da sociedade que a limitavam e impediam de alcançar seus objetivos, tornando-se dona de si mesma. Estuda, trabalha e gosta de conviver com os amigos, sem que a idade seja vista como um obstáculo. Alcança a liberdade que todas as mulheres deveriam ter o direito de almejar.

Através da transformação da personagem “Amélia” [9] ,assistimos à evolução dos papéis tradicionais de gênero e das expectativas para as mulheres. Como Mario Lago compôs na canção original, "Amélia" foi inicialmente retratada como desprovida de qualquer sentido de interesse próprio ou vaidade. Esta representação reflete o papel social limitado que se esperava que as mulheres cumprissem no passado

“Amélia não tinha a menor vaidade

Amélia que era mulher de verdade

Amélia que era mulher de verdade

Não tinha a menor vaidade”. Mario Lago, 1942

No entanto, à medida que a personagem de "Amélia" evolui para se tornar um símbolo de poder e independência, vemos como as expectativas da sociedade mudaram para reconhecer e valorizar a força e a capacidade de ação das mulheres. Quer seja a preparar delicadamente uma refeição ou a tomar decisões com confiança enquanto concilia o trabalho e os cuidados pessoais, "Amélia" representa a mulher moderna e com poder que se recusa a ser condicionada por papéis ou expectativas de gênero limitadores.

O que vemos em comum entre estes textos, para além da simples discussão das experiências das mulheres, é a luta por uma vida melhor e mais forte, cheia de amor, desde o amor-próprio ao amor romântico. A mensagem de procurar a liberdade através da desconstrução e da quebra de clichês e expectativas sociais serve como um lembrete de que, mesmo que não seja fácil ou direto, é possível.

Nunca é demais sublinhar o poder da escrita feminina para desafiar e quebrar os estereótipos de gênero. Através da literatura e da música, as mulheres têm conseguido exprimir o seu "eu" autêntico e desafiar as expectativas e normas da sociedade. As obras de autoras feministas como Bell Hooks e Simone de Beauvoir, e a música de artistas como Pitty Leone, têm sido fundamentais nesta luta. Chamaram a atenção para a desigualdade de tratamento das mulheres e para a necessidade de quebrar os clichês de gênero que há muito limitam o potencial das mulheres. Ao escrever e criar arte que reflete as suas experiências e perspectivas, as mulheres são capazes de desafiar e subverter os papéis tradicionais de gênero e exigir igualdade de tratamento e representação. É através deste desafio e da quebra que podemos criar uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para todos.

 

Ler as obras destas mulheres foi verdadeiramente inspirador e revelador para mim. Lembrou-me o poder da escrita e da arte para desafiar os padrões e as normas de gênero, e a importância de dar voz àqueles que foram historicamente marginalizados ou silenciados. Através da literatura de autoras feministas, e da música, compreendi mais profundamente a luta contínua pela igualdade de gênero e o papel fundamental que a expressão criativa desempenha nesta luta.

Estas obras ensinaram-me a reconhecer os estereótipos e preconceitos de gênero omnipresentes na nossa cultura e a trabalhar no sentido de desafiar e quebrar estas normas na minha vida pessoal e profissional. Também me recordaram a importância de amplificar as diversas vozes e perspectivas, não só nas nossas representações artísticas, mas em todos os aspectos da nossa sociedade.

Em síntese, a leitura das obras destas mulheres foi um poderoso lembrete da luta contínua pela igualdade de gênero e do papel vital que a expressão criativa pode desempenhar nesta luta. Estou grata a estas mulheres pela sua coragem, força e perspicácia, e continuarei a aprender e a inspirar-me no seu trabalho.

 

 

 

REFERÊNCIA

 

 

Análise “desconstruindo Amélia”, - https://www.letras.mus.br/blog/desconstruindoamelia-analise/ acessado em 20/11/2023

Beauvoir, S. de (1949). O Segundo Sexo. Editora Nova Fronteira. Acessado em 19/11/2023

Biografia Pitty Leone, disponível em -https://www.ebiografia.com/pitty/ - acessado em 19/11/2023

ed. São Paulo: Cortez; 1993

 Balzac, H. de (2011). A mulher de trinta. Traduzida por Ellen Marriage. Edição Kindle.

Hooks, Bel. (1994). Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade. Editora Martins Fontes. Acessado em 19/11/2023

 KOCH, Ingedore G.Villaça. Argumentação e linguagem/Ingedore G. Villaça Koch. 3.

Letra Desconstruindo Amélia, disponível em https://www.letras.mus.br/pitty/1524312/ acessado em 19/11/2023

United Nations. (n.d.). Dia Internacional da Mulher. Recuperado em 7 de setembro de 2021, de https://www.un.org/en/observances/womens-day/origins-history. Acessado em 21/11/2023

Woolf, V. (1938). Three Guineas. Hogarth Press.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



¹ Graduanda em Letras pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus Jequié.

² Estereótipos: é uma impressão fixa que pode resultar da aparência, do vestuário, do comportamento, da cultura de uma pessoa, entre outros fatores. É uma presunção sobre determinadas pessoas baseada em generalizações de situações passadas, muitas vezes sem relação com o presente, e por vezes sem compreender grupos sociais ou características individuais como aparência, situação financeira, comportamento, sexualidade, etc.

[3] Estereótipos de gênero: são crenças simplificadas e pré-determinadas sobre características e papéis típicos atribuídos a homens e mulheres com base apenas no seu género. Estas crenças são muitas vezes demasiado simplificadas e baseadas em normas sociais, representações mediáticas e papéis tradicionais de género. Os estereótipos de género podem ser prejudiciais, pois podem restringir as escolhas, experiências e oportunidades dos indivíduos com base na sua identidade de género e reforçar a desigualdade e a discriminação.

[4] "Desconstruindo Amélia" é uma música da cantora/compositora de rock brasileira Pitty. A música critica os papéis tradicionais de género atribuídos às mulheres e as expectativas sociais colocadas sobre elas para que cumpram constantemente os papéis de cuidadoras, educadoras e apoiantes, sem ter em conta os seus próprios desejos e necessidades. A letra expressa a necessidade de desafiar e quebrar esses papéis e estereótipos, permitindo que as mulheres abracem sua complexidade e individualidade. A música tornou-se um sucesso no Brasil e é considerada um hino feminista.

[5] Um dia mundial para celebrar as conquistas sociais, económicas, culturais e políticas das mulheres e para sensibilizar para a desigualdade entre os sexos e para a luta pelos direitos das mulheres em todo o mundo.

[6] O termo "multitarefas" é frequentemente utilizado para descrever os papéis e as responsabilidades que as mulheres assumem frequentemente no seio da família e do agregado familiar, equilibrando várias tarefas ao mesmo tempo, como cozinhar, limpar, cuidar dos filhos e trabalhar fora de casa. No entanto, este termo também tem sido criticado por sugerir que as mulheres devem ser responsáveis pela realização de múltiplas tarefas em simultâneo sem o devido apoio ou reconhecimento.

[7] O empoderamento das mulheres refere-se ao processo de proporcionar às mulheres as ferramentas, os recursos e as oportunidades necessárias para alcançarem a igualdade de género e realizarem o seu potencial. Isto inclui o acesso à educação, aos cuidados de saúde, à igualdade de remuneração e a posições de poder e influência em todas as áreas da sociedade. O empoderamento tem tudo a ver com a criação de um mundo onde as mulheres são capazes de perseguir os seus objetivos e sonhos sem medo de discriminação ou limitações baseadas no seu gênero.

[8] "A Mulher de Trinta", de Honoré de Balzac, é um romance que explora as expectativas e os preconceitos da sociedade em relação às mulheres do século XIX. A história segue a vida de Julie, uma mulher de 32 anos que é considerada fora de moda e já não é desejável. Através das experiências de Julie, o romance critica os papéis estreitos e limitadores atribuídos às mulheres na sociedade e questiona o valor atribuído às mulheres com base apenas na sua idade e beleza.

[9] "Amélia" é um clássico do samba brasileiro composto por Mario Lago na década de 1940. A canção conta a história de uma mulher chamada Amélia, que é descrita como uma esposa dedicada e cuidadora de sua casa. A letra retrata Amélia como altruísta e desprovida de qualquer sentimento de interesse próprio ou vaidade, refletindo as expectativas sociais colocadas sobre as mulheres naquela época. Embora a canção tenha sido criticada por seu retrato das mulheres, ela permaneceu uma canção popular e duradoura na história da música popular brasileira. 


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