Desconstrução de estereótipos na escrita feminina, através de leituras de autoras feministas, até a música “Desconstruindo Amélia” da cantora/ compositora Pitty Leone.
Thamires Santos Souza[1]
Introdução
Quando comecei a ler sobre a importância e a
relevância da escrita feminina, fiquei impressionada com o quão isso me tocou.
Como mulher, sei em primeira mão como pode ser difícil fazer com que a voz seja
ouvida e as opiniões valorizadas numa sociedade que muitas vezes reforça
estereótipos[2]
e limitações de gênero. Mas através da escrita, encontrei uma forma de
expressar autenticamente e desafiar as expectativas sociais que foram impostas.
Neste ensaio, vou aprofundar o impacto da escrita feminina
na quebra de padrões pré-estabelecidos e permitir que as mulheres encontrem as
suas vozes únicas através da expressão literária. Explorarei os clichês que
estão frequentemente presentes na escrita feminina e examinarei como as
escritoras estão a desafiar e a libertar-se dessas limitações. Acredito que, ao
fazê-lo, as escritoras são capazes de abrir a porta a uma maior diversidade na
escrita narrativa e na representação das mulheres.
Como exemplo, vamos analisar a música
"Desconstruindo Amélia" da cantora e compositora brasileira Pitty
Leone, juntamente com as obras literárias discutidas nas aulas ministradas pela
Professora Doutora Adriana Abreu e pela doutoranda Pollyana Lima. Através
dessas obras, vamos explorar como a quebra de concepções errôneas nas artes
pode abrir caminho para uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.
Desconstrução
de estereótipos na escrita feminina
Com o uso da escrita, as mulheres têm a oportunidade
de desafiar e questionar os estereótipos de gênero[3] que
existem na sociedade. Elas podem explorar uma variedade de temas e
perspectivas, rompendo com as expectativas tradicionais e oferecendo narrativas
mais diversas e autênticas.
A escrita feminina pode abordar questões como
identidade, sexualidade, maternidade, relacionamentos e muito mais, de maneiras
que desafiam as normas culturais e sociais. Essa forma de expressão literária é
uma poderosa ferramenta para combater a desigualdade de gênero e promover a
igualdade, permitindo que as mulheres compartilhem suas histórias, experiências
e visões de mundo, ao desconstruir padrões na escrita feminina, as autoras
podem desafiar a ideia de que as mulheres devem se encaixar em determinados
papéis ou comportamentos predefinidos. Elas podem criar personagens femininas
complexas e multifacetadas, que não são restritas por concepções errôneas limitantes.
Além disso, a escrita feminina pode revelar as diversas vozes e perspectivas
das mulheres, contribuindo para uma representação mais justa e inclusiva na
literatura e na sociedade como um todo. Deste modo, a desconstrução de
estereótipos na escrita feminina é uma forma poderosa de empoderamento e
resistência, permitindo que as mulheres se expressem livremente e desafiem as
normas de gênero impostas pela sociedade.
A desconstrução de estereótipos culturais e
sociais na luta feminista: o papel da literatura e da música
A literatura feminina tem sido um meio de desafiar e
desconstruir generalizações culturais há séculos. Autoras habilidosas Bell
Hooks, Simone de Beauvoir, Marina Colasanti, Adriana Abreu, Virginia Wolf,
criaram personagens femininas complexas e multifacetadas, que desafiam as
expectativas do que uma mulher “deveria” ser. Essas representações ampliam o
olhar para o que significa ser mulher e colocam em cheque as noções convencionais
de gênero. Além disso, essas obras são importantes exemplos de como a escrita
pode ser uma ferramenta para a libertação das mulheres, permitindo que as
mulheres sejam representadas de forma autêntica e, assim, criarem novos modelos
e possibilidades no mundo
Ao longo da história, a produção artística literária
e a música foram predominantes nas mãos dos homens, o que resultou em uma falta
de representações femininas e em uma falta de vozes femininas na sociedade.
Isso se aplicava tanto à literatura quanto à música, onde as mulheres muitas
vezes eram invisíveis ou reduzidas a um papel secundário. No entanto, o
movimento feminista foi responsável por lutar pela desconstrução de concepções
errôneas de gênero e aumentar a presença das mulheres na produção artística.
Autoras como Simone de Beauvoir e Bell Hooks
desempenharam um papel fundamental nessa luta. Em "O Segundo Sexo",
Beauvoir questionou as noções tradicionais de gênero e argumentou que elas eram
baseadas em generalizações culturais e sociais que limitavam a liberdade e a
igualdade das mulheres. Embora Simone nunca tenha declarado explicitamente que
as suas obras se destinavam a fins feministas, ela é frequentemente associada à
filosofia feminista. Os seus escritos exploraram as formas como as mulheres têm
sido historicamente oprimidas e as estruturas sociais que contribuíram para a sua
subjugação. Defendia que o gênero não era uma caraterística natural, mas sim
uma identidade socialmente construída, e que os indivíduos deviam poder definir
as suas próprias identidades e papéis na sociedade. Além disso, Simone era uma
defensora dos direitos reprodutivos das mulheres e defendia a importância de as
mulheres terem controlo sobre os seus próprios corpos.
"Não se nasce mulher, mas
torna-se mulher" - Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.
Em "Ensinando a Transgredir", Bell Hooks
criticou a educação tradicional e defendeu a importância da interseccionalidade
na luta pelo fim da opressão. Ambas defenderam a ideia de que a desconstrução
de concepções errôneas de gênero é essencial para alcançar a libertação
feminina e a construção de uma sociedade mais igualitária.
"O
primeiro passo para a criação de um mundo novo e melhor é desmantelar o sistema
cultural e económico em que vivemos e apontar as suas falhas" - Bell
Hooks, Teaching to Transgress.
No contexto da música, a presença das mulheres tem
crescido cada vez mais, o que tem sido um fator importante para a desconstrução
de preconceito de gênero. Pitty Leone é uma figura significativa neste sentido,
com sua música "Desconstruindo Amélia", ela desafia os preconceito de
gênero e inspira muitas mulheres a fazer o mesmo. Por meio de sua música, Pitty
oferece uma nova representação da mulher e uma mensagem poderosa de libertação
e igualdade.
A desconstrução de clichês culturais e sociais tem
sido um fator crucial para a luta feminista e para alcançar a igualdade de
gênero na sociedade. Desde a luta por representações mais autênticas na
literatura, ao aumento da presença feminina na música, essa luta tem trazido
importantes conquistas para a causa feminina. A música "Desconstruindo
Amélia" de Pitty Leone, é um exemplo poderoso de como as mulheres podem
lutar contra generalizações culturais e sociais.
Com o avento das próximas décadas e os estudos
discursivos nossa sociedade passa por um período de mudanças e isso que podemos
observar na canção “Descontruído Amélia”, onde as condições de produção já traz
para o texto discursos que aos poucos estão sendo debatidos em nossa sociedade,
pois a mulher já não mais aceita os padrões impostos a ela, assim ela vai em
busca da liberdade negada.
“DESCONSTRUINDO AMÉLIA”[4]
Já
é tarde, tudo está certo
Cada
coisa posta em seu lugar
Filho
dorme, ela arruma o uniforme
Tudo
pronto pra quando despertar
O
ensejo a fez tão prendada
Ela
foi educada pra cuidar e servir
De
costume, esquecia-se dela
Sempre
a última a sair
Disfarça
e segue em frente
Todo
dia até cansar (Uhu!)
E
eis que de repente ela resolve então mudar
Vira
a mesa, assume o jogo
Faz questão de se cuidar (Uhu!)
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também
A despeito de tanto mestrado
Ganha menos que o namorado
E não entende porque
Tem talento de equilibrista
Ela é muita, se você quer saber
Hoje aos 30 é melhor que aos 18
Nem Balzac poderia prever
Depois do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda vai pra night ferver
Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar (Uhu!)
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa, assume o jogo
Faz questão de se cuidar (Uhu!)
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também
Uhu, uhu, uhu
Uhu, uhu, uhu
Disfarça e segue em frente
Todo dia até cansar (Uhu!)
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa, assume o jogo
Faz questão de se cuidar (Uhu!)
Nem serva, nem objeto
Já não quer ser o outro
Hoje ela é um também
No ano de 1970, as Nações Unidas instituíram o dia 8
de março como o Dia Internacional da Mulher[5],
uma data para celebrar as conquistas dos movimentos feministas e reivindicar
igualdade de direitos para as mulheres em todas as esferas da vida. Com os
avanços na sociedade, a mulher deixou de se dedicar exclusivamente à família,
alcançando autonomia e empoderamento. No entanto com advento das causas
feministas a luta das mulheres está apenas começando pois há muito a se fazer
para equilibrar a rotina para que nós não sejamos sobrecarregadas.
“Como mulher, não tenho pátria. Como mulher, não
quero um país. Como mulher, o meu país é o mundo inteiro" - Virginia
Woolf.
A letra da compositora/cantora Pitty são atuais
manifestos; a cantora baiana sempre usou a música para questionar normas e
provocar o pensamento crítico e reflexões sobre temas como sexíssimo, machismo,
depressão e autoaceitação.
Na música “Desconstruindo Amélia”, Pitty procura
romper com o estereótipo da Amélia que era “mulher de verdade” de outros
tempos, pois está surgindo uma nova mulher do XXI, na letra ela conta a
história de uma mulher multitarefas, que mesmo estando sobrecarregada um dia
resolve “vira a mesa e assumir o jogo”, lutando pelo protagonismo da própria
vida.
Começando pelo título “desconstruindo Amélia”
referindo-se a uma desconstrução, ato de rompimento com padrões conservadores
estabelecidos, e que é necessário reconstruir a mulher para rompimento dos
padrões que são impostos socialmente a mulher.
Já
é tarde, tudo está certo
Cada
coisa posta em seu lugar
Filho
dorme, ela arruma o uniforme
Tudo
pronto pra quando despertar
A canção começa por descrever os tradicionais papéis
multitarefa[6]
das mulheres, como a personagem "Amélia", que está simbolicamente
ocupada com as tarefas domésticas. Apesar da hora do dia, continua a ter
tarefas a cumprir, assegurando que tudo está bem organizado para o bem-estar do
seu filho. A canção critica implicitamente a noção prevalecente de que as
tarefas domésticas são da responsabilidade exclusiva das mulheres, ignorando o
fardo esmagador que esta expetativa impõe às mulheres. Além disso, as mulheres
têm sido frequentemente obrigadas a conciliar as responsabilidades domésticas
com a sua vida profissional, perpetuando as desigualdades sistémicas e
limitando as oportunidades de atingirem o seu pleno potencial.
O
ensejo a fez tão prendada
Ela
foi educada pra cuidar e servir
De
costume, esquecia-se dela
Sempre
a última a sai
As alegações que tentam retira o empoderamento da
mulher [7]continua.
A autora critica a forma como as mulheres são moldadas para se enquadrarem num
papel de cuidadoras domésticas, com a expectativa de que devem primeiro
garantir que tudo na casa está organizado e limpo para satisfazer os outros.
Isto deixa-lhes pouco tempo para se concentrarem nas suas próprias
necessidades, sendo a mulher muitas vezes a última a preparar-se. Isto realça a
divisão desequilibrada e sexista do trabalho doméstico, resultando na
exploração do trabalho doméstico das mulheres.
Disfarça
e segue em frente
Todo
dia até cansar
E
eis que de repente ela resolve então mudar
Vira
a mesa, assume o jogo
Faz
questão de se cuidar
Neste ponto surgir Amélia moderna, libertando-se do conformismo
e colocando-se em primeiro lugar. Decide abandonar a sua identidade anterior de
cuidadora altruísta, rejeitando o papel subserviente da personagem "Amélia
sem vaidade" e, em vez disso, abraça uma identidade mais amorosa. Ao dar
prioridade às suas próprias necessidades e desejos, rejeita a noção de que o
seu valor está ligado ao cumprimento das expectativas sociais de feminilidade.
Nem
serva, nem objeto
Já
não quer ser o Outro
Hoje
ela é Um também
Os papéis de gênero são enfim quebrados, aqueles que
são atribuídos a nós mulheres. Nesse verso “Já não quer ser o outro, hoje ela é
‘Um’ também” faz referência a um conceito formulado por Simone de Beauvoir no
livro Segundo Sexo, no qual ela discorre sobre a posição da mulher na
sociedade, na posição de Outro do homem, sendo ela um ser humano incompleto
comparado ao homem e a partir do seu olhar. Porém logo que tornando-se “Um” a
mulher não é mais limitada aos papéis a ela atribuída por uma sociedade
patriarcal, machista e misógina, ela torna-se dona de si mesma.
A
despeito de tanto mestrado
Ganha
menos que o namorado
E
não entende o porquê
Tem
talento de equilibrista
Ela
é muitas, se você quer saber
Nesta estrofe da canção, a crítica é dirigida aos
salários persistentemente mais baixos pagos às mulheres em comparação com os
dos homens. Os movimentos feministas há muito que se debruçam sobre esta
questão, mas, apesar dos progressos, ainda há muito espaço para maiores
avanços. A canção também critica a tripla carga que as mulheres enfrentam, uma
vez que são frequentemente responsáveis por trabalhar fora de casa, cuidar das
suas famílias, gerir as tarefas domésticas, incluindo as compras de mercearia e
as limpezas, bem como arranjar tempo para si próprias. A letra chama a atenção
para o facto de que, mesmo com o progresso, ainda existem questões sociais
profundamente enraizadas que contribuem para o tratamento desigual das mulheres
em vários aspectos da vida.
Hoje
aos 30 é melhor que aos 18
Nem
Balzac poderia prever
Depois
do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda
vai pra night ferver
Disfarça
e segue em frente
Recorrendo à intertextualidade, a compositora
comentam as transformações socioculturais vividas pelas mulheres nas últimas
décadas. Faz referência ao romance de Honoré Balzac "A Mulher de
Trinta"[8],
que discute como uma mulher com mais de 30 anos era considerada velha e já não
era desejável no século XIX. No entanto, a compositora argumenta que já não é
assim, uma vez que as mulheres na casa dos 30 anos têm atualmente tanta
vitalidade como quando tinham 18 anos. Isto realça a importância de desafiar os
papéis e expectativas tradicionais de gênero que muitas vezes limitam todo o
potencial das mulheres. Balzac escreveu no seu romance, "A divindade que
molda os nossos fins é feminina. Quando considero o vigor que anima o corpo de
uma mulher, a inteligência que ilumina a sua mente, o espírito que dirige as
suas ações, não consigo encontrar nada de masculino nela." Este excerto
sublinha a necessidade de reconhecer e valorizar as forças inerentes às
mulheres, em vez de as enquadrar em construções sociais limitadas.
Simone de Beauvoir escreveu, "Um homem nunca é
definido como um indivíduo de um determinado sexo; é evidente que é um homem.
Os termos 'masculino' e 'feminino' são usados simetricamente apenas como uma questão
de forma, como em documentos legais. Na realidade, a relação entre os dois
sexos não é exatamente como a de dois pólos eléctricos, pois o homem representa
tanto o positivo como o neutro, como o indica o uso comum de homem para
designar os seres humanos em geral; enquanto a mulher representa apenas o
negativo, definido por critérios limitativos, sem reciprocidade". Esta
ideia sublinha os preconceitos de gênero generalizados que ainda existem hoje
em dia e recorda-nos a necessidade permanente de lutar pela igualdade de gênero
e pela capacitação.
Do meu ponto de vista, o uso da intertextualidade é
uma forma influente de escritores e artistas comentarem a mudança de papéis e
expectativas das mulheres na nossa sociedade. Ao tecer referências a obras como
"A Mulher de Trinta", de Balzac, e "O Segundo Sexo", de
Simone de Beauvoir, recorda-nos os padrões e preconceitos de gênero que ainda
hoje existem. É importante reconhecer como estes padrões podem limitar o
potencial das mulheres e desafiar as normas tradicionais de gênero para
capacitar os indivíduos independentemente do seu gênero.
Acredito que a chave para alcançar a igualdade de gênero
reside no reconhecimento e na valorização das forças e do potencial inerentes a
todos os indivíduos, independentemente do seu gênero. Temos de lutar por uma
sociedade mais justa e equitativa, onde os indivíduos sejam livres de perseguir
os seus objetivos e sonhos sem medo de discriminação ou de normas sociais
limitadoras. É uma longa jornada, mas sinto-me encorajado pelo progresso que
fizemos até agora e pelos esforços contínuos de indivíduos e comunidades em
todo o mundo que estão a trabalhar para um futuro mais igualitário e justo.
Todo
dia até cansar
E
eis que de repente ela resolve então mudar
Vira
a mesa, assume o jogo
Faz
questão de se cuidar
Nem
serva, nem objeto
Já
não quer ser o Outro
Hoje
ela é Um também
Desse modo, atingimos o famoso conceito de
desconstrução. A música superou os costumes da sociedade que a limitavam e
impediam de alcançar seus objetivos, tornando-se dona de si mesma. Estuda,
trabalha e gosta de conviver com os amigos, sem que a idade seja vista como um
obstáculo. Alcança a liberdade que todas as mulheres deveriam ter o direito de
almejar.
Através da transformação da personagem “Amélia” [9] ,assistimos
à evolução dos papéis tradicionais de gênero e das expectativas para as
mulheres. Como Mario Lago compôs na canção original, "Amélia" foi
inicialmente retratada como desprovida de qualquer sentido de interesse próprio
ou vaidade. Esta representação reflete o papel social limitado que se esperava
que as mulheres cumprissem no passado
“Amélia
não tinha a menor vaidade
Amélia
que era mulher de verdade
Amélia
que era mulher de verdade
Não
tinha a menor vaidade”. Mario Lago, 1942
No entanto, à medida que a personagem de
"Amélia" evolui para se tornar um símbolo de poder e independência,
vemos como as expectativas da sociedade mudaram para reconhecer e valorizar a
força e a capacidade de ação das mulheres. Quer seja a preparar delicadamente
uma refeição ou a tomar decisões com confiança enquanto concilia o trabalho e
os cuidados pessoais, "Amélia" representa a mulher moderna e com
poder que se recusa a ser condicionada por papéis ou expectativas de gênero
limitadores.
O que vemos em comum entre estes textos, para além
da simples discussão das experiências das mulheres, é a luta por uma vida
melhor e mais forte, cheia de amor, desde o amor-próprio ao amor romântico. A
mensagem de procurar a liberdade através da desconstrução e da quebra de clichês
e expectativas sociais serve como um lembrete de que, mesmo que não seja fácil
ou direto, é possível.
Nunca é demais sublinhar o poder da escrita feminina
para desafiar e quebrar os estereótipos de gênero. Através da literatura e da
música, as mulheres têm conseguido exprimir o seu "eu" autêntico e
desafiar as expectativas e normas da sociedade. As obras de autoras feministas
como Bell Hooks e Simone de Beauvoir, e a música de artistas como Pitty Leone,
têm sido fundamentais nesta luta. Chamaram a atenção para a desigualdade de
tratamento das mulheres e para a necessidade de quebrar os clichês de gênero
que há muito limitam o potencial das mulheres. Ao escrever e criar arte que
reflete as suas experiências e perspectivas, as mulheres são capazes de
desafiar e subverter os papéis tradicionais de gênero e exigir igualdade de
tratamento e representação. É através deste desafio e da quebra que podemos
criar uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para todos.
Ler as obras destas mulheres foi verdadeiramente
inspirador e revelador para mim. Lembrou-me o poder da escrita e da arte para
desafiar os padrões e as normas de gênero, e a importância de dar voz àqueles
que foram historicamente marginalizados ou silenciados. Através da literatura
de autoras feministas, e da música, compreendi mais profundamente a luta
contínua pela igualdade de gênero e o papel fundamental que a expressão
criativa desempenha nesta luta.
Estas obras ensinaram-me a reconhecer os
estereótipos e preconceitos de gênero omnipresentes na nossa cultura e a
trabalhar no sentido de desafiar e quebrar estas normas na minha vida pessoal e
profissional. Também me recordaram a importância de amplificar as diversas
vozes e perspectivas, não só nas nossas representações artísticas, mas em todos
os aspectos da nossa sociedade.
Em síntese, a leitura das obras destas mulheres foi
um poderoso lembrete da luta contínua pela igualdade de gênero e do papel vital
que a expressão criativa pode desempenhar nesta luta. Estou grata a estas
mulheres pela sua coragem, força e perspicácia, e continuarei a aprender e a
inspirar-me no seu trabalho.
REFERÊNCIA
Análise “desconstruindo Amélia”, -
https://www.letras.mus.br/blog/desconstruindoamelia-analise/ acessado em
20/11/2023
Beauvoir, S. de (1949). O Segundo Sexo. Editora Nova
Fronteira. Acessado em 19/11/2023
Biografia Pitty Leone, disponível em
-https://www.ebiografia.com/pitty/ - acessado em 19/11/2023
ed. São Paulo: Cortez; 1993
Balzac,
H. de (2011). A mulher de trinta. Traduzida por Ellen Marriage. Edição Kindle.
Hooks, Bel. (1994). Ensinando a transgredir: A
educação como prática da liberdade. Editora Martins Fontes. Acessado em
19/11/2023
KOCH,
Ingedore G.Villaça. Argumentação e linguagem/Ingedore G. Villaça Koch. 3.
Letra Desconstruindo Amélia, disponível em
https://www.letras.mus.br/pitty/1524312/ acessado em 19/11/2023
United Nations. (n.d.).
Dia Internacional da Mulher. Recuperado em 7 de setembro de 2021, de
https://www.un.org/en/observances/womens-day/origins-history. Acessado em
21/11/2023
Woolf, V. (1938). Three Guineas. Hogarth Press.
² Estereótipos: é uma impressão fixa que pode resultar
da aparência, do vestuário, do comportamento, da cultura de uma pessoa, entre
outros fatores. É uma presunção sobre determinadas pessoas baseada em
generalizações de situações passadas, muitas vezes sem relação com o presente,
e por vezes sem compreender grupos sociais ou características individuais como
aparência, situação financeira, comportamento, sexualidade, etc.
[3] Estereótipos de
gênero: são crenças simplificadas e pré-determinadas sobre características e
papéis típicos atribuídos a homens e mulheres com base apenas no seu género.
Estas crenças são muitas vezes demasiado simplificadas e baseadas em normas
sociais, representações mediáticas e papéis tradicionais de género. Os
estereótipos de género podem ser prejudiciais, pois podem restringir as
escolhas, experiências e oportunidades dos indivíduos com base na sua
identidade de género e reforçar a desigualdade e a discriminação.
[4]
"Desconstruindo Amélia" é uma música da cantora/compositora de rock
brasileira Pitty. A música critica os papéis tradicionais de género atribuídos
às mulheres e as expectativas sociais colocadas sobre elas para que cumpram
constantemente os papéis de cuidadoras, educadoras e apoiantes, sem ter em
conta os seus próprios desejos e necessidades. A letra expressa a necessidade
de desafiar e quebrar esses papéis e estereótipos, permitindo que as mulheres
abracem sua complexidade e individualidade. A música tornou-se um sucesso no
Brasil e é considerada um hino feminista.
[5] Um dia mundial para celebrar as conquistas
sociais, económicas, culturais e políticas das mulheres e para sensibilizar
para a desigualdade entre os sexos e para a luta pelos direitos das mulheres em
todo o mundo.
[6]
O termo "multitarefas" é frequentemente utilizado para descrever os
papéis e as responsabilidades que as mulheres assumem frequentemente no seio da
família e do agregado familiar, equilibrando várias tarefas ao mesmo tempo,
como cozinhar, limpar, cuidar dos filhos e trabalhar fora de casa. No entanto,
este termo também tem sido criticado por sugerir que as mulheres devem ser
responsáveis pela realização de múltiplas tarefas em simultâneo sem o devido
apoio ou reconhecimento.
[7] O empoderamento das mulheres refere-se
ao processo de proporcionar às mulheres as ferramentas, os recursos e as
oportunidades necessárias para alcançarem a igualdade de género e realizarem o
seu potencial. Isto inclui o acesso à educação, aos cuidados de saúde, à
igualdade de remuneração e a posições de poder e influência em todas as áreas
da sociedade. O empoderamento tem tudo a ver com a criação de um mundo onde as
mulheres são capazes de perseguir os seus objetivos e sonhos sem medo de
discriminação ou limitações baseadas no seu gênero.
[8] "A Mulher de Trinta",
de Honoré de Balzac, é um romance que explora as expectativas e os preconceitos
da sociedade em relação às mulheres do século XIX. A história segue a vida de
Julie, uma mulher de 32 anos que é considerada fora de moda e já não é
desejável. Através das experiências de Julie, o romance critica os papéis
estreitos e limitadores atribuídos às mulheres na sociedade e questiona o valor
atribuído às mulheres com base apenas na sua idade e beleza.
[9] "Amélia" é um clássico do samba brasileiro composto por Mario Lago na década de 1940. A canção conta a história de uma mulher chamada Amélia, que é descrita como uma esposa dedicada e cuidadora de sua casa. A letra retrata Amélia como altruísta e desprovida de qualquer sentimento de interesse próprio ou vaidade, refletindo as expectativas sociais colocadas sobre as mulheres naquela época. Embora a canção tenha sido criticada por seu retrato das mulheres, ela permaneceu uma canção popular e duradoura na história da música popular brasileira.
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