quinta-feira, 18 de julho de 2024

 O Espelho do Mundo

Thamires Souza

 

Joana era uma mulher de meia-idade que morava numa pequena cidade à beira-mar. Sua vida era tranquila, quase monótona, dividida entre o trabalho na biblioteca municipal e as tardes de chá com sua velha amiga, Dona Laura. O mar, no entanto, sempre representou uma janela para algo maior, algo além da vida simples que ela levava.
Um dia, enquanto passeava pela praia, Joana encontrou um espelho peculiar semienterrado na areia. Era um objeto antigo, com uma moldura de madeira entalhada em detalhes minuciosos que lembravam ondas e conchas. Curiosa, Joana limpou o espelho e olhou seu próprio reflexo.
Para sua surpresa, o espelho não mostrava apenas a sua imagem. Mostrava lugares distantes, paisagens exóticas e culturas diversas. Joana viu florestas tropicais, desertos áridos, cidades futuristas e aldeias antigas. Cada vez que olhava no espelho, uma nova visão de um mundo desconhecido aparecia.
Intrigada, Joana começou a levar o espelho para a biblioteca, usando suas pausas para explorar essas visões. Cada imagem refletida trazia consigo sons, cheiros e até sensações táteis, como se ela estivesse realmente visitando esses lugares. Joana começou a escrever sobre suas experiências, descrevendo em detalhes as maravilhas que via.
Com o tempo, as histórias de Joana começaram a atrair a atenção dos moradores da cidade. Eles vinham à biblioteca não apenas para ler, mas para ouvir Joana contar sobre suas "viagens". O espelho tornou-se um segredo compartilhado, uma janela para o mundo além do mar.
Um dia, enquanto Joana explorava mais uma visão, viu uma versão dela mesma, mais jovem, sorrindo de um lugar que parecia ser um mercado vibrante em uma terra distante. A jovem Joana acenou, convidando-a para atravessar o espelho. Sem hesitar, Joana deu um passo à frente e sentiu-se sendo puxada para dentro do vidro.
Quando abriu os olhos, Joana estava no meio do mercado. O calor, os aromas, a energia do lugar a envolviam completamente. Ela percebeu que o espelho não era apenas uma janela para ver o mundo, mas uma porta para vivê-lo.
Joana decidiu não voltar. Deixou uma carta para Dona Laura, explicando sua decisão e dizendo que o espelho agora pertencia à cidade. Pediu para que continuassem a usá-lo, a explorar e a expandir suas próprias visões de mundo.

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