quarta-feira, 17 de julho de 2024


Sob a Abóbada da Floresta Interior



No coração da floresta, onde o silêncio sussurra segredos ancestrais, ele caminhava. Os troncos das árvores erguiam-se como sentinelas imponentes, suas copas entrelaçadas formando uma abóbada verde e viva. Cada passo que dava, a terra sob seus pés reverberava com ecos de tempos passados, e ele sentia-se envolto numa manta de memórias.

A brisa suave acariciava seu rosto, trazendo consigo o cheiro pungente da terra molhada e das folhas em decomposição, uma lembrança olfativa de sua própria transitoriedade. As folhas caídas formavam um tapete macio, cada uma contando a história de verões que se foram e invernos que hão de vir. Ele caminhava devagar, permitindo que a tranquilidade do lugar invadisse seu ser, penetrando cada fibra de sua alma.

Enquanto avançava, as árvores sussurravam palavras inaudíveis, e ele podia quase entender o que diziam. Eram histórias de crescimento e perda, de luta e resiliência. Cada galho retorcido, cada tronco marcado, espelhava as cicatrizes que carregava dentro de si. As raízes profundas, invisíveis aos olhos, lembravam-no das suas próprias raízes, escondidas, mas vitais.

A cada curva do caminho, ele encontrava fragmentos de sua vida. Uma clareira iluminada pelo sol filtrado trazia à tona risos esquecidos, enquanto uma sombra mais densa evocava lágrimas reprimidas. Era um mosaico de emoções, entrelaçadas tão intrinsecamente quanto os galhos acima de sua cabeça.

Então, na profundidade da floresta, ele chegou a um lago cristalino, escondido e sereno. A água espelhava o céu e as árvores, um reflexo perfeito do mundo ao seu redor e do mundo dentro de si. Sentou-se à beira, contemplando seu próprio reflexo, e viu mais do que apenas sua imagem; viu suas esperanças e seus medos, suas alegrias e suas dores.

De repente, uma tempestade se formou no horizonte, nuvens negras surgiram como sombras de pensamentos sombrios. O vento aumentou, sibilando através das árvores, e a chuva começou a cair em pesadas gotas prateadas. Ele não se moveu, deixando-se banhar pela tempestade, sentindo cada gota como uma purificação. A fúria do céu era a fúria de sua própria alma, e enquanto a tempestade rugia, ele enfrentava seus demônios internos.

E então, assim como veio, a tempestade passou. As nuvens dissiparam-se, revelando um céu azul cristalino. O sol surgiu, suas cores vibrantes refletindo na superfície do lago, e ele sentiu uma calma profunda, uma paz que brotava do fundo de sua alma renovada. Levantou-se, deixando a clareira atrás de si, e enquanto caminhava de volta, carregava consigo a certeza de que, assim como a natureza, ele também podia se renovar, crescer e florescer após a tempestade.

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