domingo, 20 de outubro de 2024

CONVERSA....

 

Coração: Que silêncio… 

Mente: Um bom momento para desabafar. 

Coração: Desabafar com quem? 


Sou sozinho neste vasto e gélido mundo, 

Onde os ecos da solidão são tudo o que ouço. 

Sinto que não tenho mais amor ou carinho para dar, 

Como se cada batida fosse um esforço desmedido. 

É um fardo insuportável fingir um sorriso, 

Enquanto cada pulsar me lembra da dor que carrego. 

Minhas feridas abertas sangram sem trégua, 

Cortadas pelas palavras malditas que ressoam na minha memória. 

Elas me paralisam cada vez que fecho os olhos, 

Como se eu precisasse parar de bater só para conseguir respirar. 

 

Então, com quem vou desabafar? 

 

Mente: Com o vazio, com a escuridão que te envolve. 

Ela não julga, não responde, mas também não acolhe. 

É um diálogo com o abismo que há dentro de ti. 

 

Coração: Mas o vazio me consome, 

E quanto mais falo, mais ele me engole. 

Ele não preenche, não dá alívio... 

Somente ecoa minhas dores e faz com que se intensifiquem. 

Eu quero ser ouvido, mas sem ser exposto, 

Quero chorar, mas sem me despedaçar. 

 

Mente: Talvez seja assim que o desabafo acontece — 

Um suspiro profundo na escuridão, 

Onde as palavras se perdem sem um destino. 

Onde a dor se dissolve lentamente no silêncio. 

 

Coração: Mas o silêncio não me responde. 

Ele é indiferente à minha angústia, 

E estou tão cansado de não encontrar respostas, 

Tão exausto de lutar contra o nada. 

 

Mente: E quem disse que o silêncio precisa te responder? 

Talvez ele apenas exista, 

Como o tempo, como a noite, 

E é no existir que ele te envolve, 

Como um véu que cobre as feridas, 

Sem a pretensão de curá-las. 

 

Coração: E se eu não aguentar mais a dor? 

E se o silêncio apenas me afogar, 

Deixando-me sem fôlego, sem saída? 

 

Mente: Então, você aprenderá que o silêncio, por mais cruel, 

É também um refúgio, 

Um espaço onde até a dor pode descansar. 

Talvez não te salve, 

Mas te permite ser, sem precisar ser forte. 

 

E nessa quietude, você encontrará um tipo de paz.


Carta aberta aos meus sentimentos,  

  

Vocês, que me torturam sem descanso, que se agarram à minha alma quando mais preciso de paz. Vocês, que me roubam o sono e até o apetite, me deixando apenas com a inquietude que ecoa no peito. São vocês que me fazem duvidar de tudo, de todos, até de mim mesma. São vocês que vestem a desconfiança como um véu sobre meus olhos, e por onde eu olho, vejo apenas sombras, mesmo onde há luz.

Vocês, que me deixam sozinha, mesmo quando cercada de pessoas. Que, com o peso que carregam, empurram para longe quem tenta se aproximar, como se a minha dor fosse uma barreira intransponível. Eu sinto a solidão como uma brisa fria, vinda de dentro, mesmo em meio a risos e vozes.  

São vocês que me fazem recolher, esconder-me dentro de mim, onde ninguém pode me encontrar. Recolho-me não porque desejo, mas porque não me sinto bem. Porque, ao abrir os olhos para o mundo, tudo parece pesado demais, distante demais.    

Gostaria de saber o porquê de sua presença constante, qual é o seu propósito em me assombrar. Tento entender se há uma lição oculta, ou se vocês são apenas reflexos do caos que ainda não aprendi a organizar.  

Mas, mesmo assim, escrevo para vocês. Porque é isso que resta. Porque, mesmo em meio a essa tormenta, há algo em mim que ainda busca diálogo, que ainda busca alguma forma de paz, mesmo que breve. Se ao menos pudessem me dar algum alívio, algum entendimento...  

E quem sabe, talvez, um dia, eu encontre a chave para acalmar vocês.  

Com sinceridade,  

Eu.

“Cartas que eu nunca enviei”

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