segunda-feira, 2 de junho de 2025

 Carta aberta ao amor

Quero dizer que você faz sacanagem na minha vida, sabe?
E nem é no sentido carnal da palavra, apesar de também ser às vezes.
Mas é no mais profundo — você entra, bagunça tudo, remexe o que tava guardado, reabre feridas antigas e ainda tem a audácia de plantar flores no meio do caos.

Você me virou do avesso sem pedir licença. Me fez sentir coisas que eu achava que tinha desaprendido a sentir. Me deu frio na barriga, me fez sonhar acordada, e depois sumiu das páginas como um personagem que some sem ter o final escrito. E eu fiquei aqui: com os sentimentos em carne viva, com o coração cheio de pontos de interrogação, tentando entender que raio de roteiro é esse que você escreveu na minha vida.

Você me faz rir no meio do choro, me faz querer e temer ao mesmo tempo. Me faz sentir tudo — do carinho mais doce até a ausência mais cortante. E talvez o pior de tudo seja isso: você me faz falta mesmo quando não foi embora. Porque tem horas que você parece tão distante, mesmo estando aqui. E isso dói. Dói mais do que quando eu amava alguém que nunca me amou.

Você é sacanagem porque me fez acreditar em reciprocidade, em construção, em entrega mútua. Me fez crer que talvez dessa vez fosse diferente. E talvez ainda seja. Mas enquanto o “talvez” insiste em se arrastar, eu vou ficando aqui, exausta de esperar respostas que nunca vêm, sinais que não se confirmam, atitudes que não acontecem.

Eu me olho no espelho e me pergunto onde foi que eu me perdi no meio desse amor. Porque sim, eu me perdi. E tenho tentado me encontrar nos cacos que sobraram. Porque amar você tem me quebrado aos pouquinhos, sem estardalhaço, no silêncio. E ninguém vê. Ninguém sabe. Mas eu sinto — em cada silêncio não respondido, em cada plano que fica só na minha cabeça, em cada abraço que eu desejei e não veio.

Essa carta ninguém precisa ler. Mas eu precisava escrever.
Pra lembrar que, mesmo machucada, mesmo confusa, mesmo cansada… eu ainda sou feita de amor. E mereço algo que não me faça implorar por migalhas de presença.
Eu mereço um amor que me abrace inteira. Sem sumir. Sem machucar.
Sem sacanagem

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