1. O peso do silêncio
Há dias em que o corpo anda, mas a alma fica.
Dias em que o riso vem automático, só pra cumprir o papel social de estar viva.
Por dentro, tudo é ruído, e o mundo gira rápido demais pra quem só queria deitar e sumir por um tempo.
Eu tento dizer, mas ninguém escuta.
E quando escutam, respondem sobre si.
Então eu me calo — e o silêncio grita.
2. Eu e a insônia
Me forço a dormir pra fugir do escuro — irônico, né?
O escuro já mora em mim.
Deito tentando apagar, mas o peso vem antes do sono.
Não sei se tô cansada de viver ou de fingir que vivo bem.
Tem noites que penso: “ninguém notaria se eu não acordasse amanhã”.
E mesmo assim, eu acordo.
E recomeço o disfarce.
3. A solidão travestida de força
Dizem que estar só é liberdade.
Mas esquecem de avisar que liberdade demais também sufoca.
Aprendi a chamar minha solidão de “autocuidado”,
me convenci de que era evolução.
Mas às vezes, a solitude é cela,
e eu sou a própria carcereira.
4. O molde vazio
Eu apareço.
Trabalho, estudo, rio.
Cumpro papéis, falo frases prontas,
faço tudo o que esperam de mim.
Mas dentro, é só eco.
Um corpo cheio de obrigações e vazio de sentido.
Presença não é sinônimo de existência.
E eu já não sei qual das duas eu sou.
5. Falência emocional
Não é drama.
É falência.
Meu estoque de paciência acabou.
Minha energia, vencida.
Eu tô quebrada, mas ninguém nota —
talvez porque aprendi bem o disfarce.
Sorrir virou sobrevivência.
Mas sorrir dói.
6.E se ninguém ficar?
Eu já entendi que, às vezes, o que a gente precisa não é ser salvo.
É só ser visto.
Não quero pena, nem promessas de “vai passar”.
Quero um olhar que me reconheça, que entenda que mesmo cansada, eu ainda tento.
E se ninguém ficar, que eu fique comigo.
Mas, dessa vez, com ternura.
7. Dedicatória a mim mesma
Pra mim, que carrego mundos e ainda tento ser leve.
Pra mim, que choro escondida, mas continuo aparecendo.
Pra mim, que escrevo pra não sufocar.
Pra mim, que mereço amor, mesmo quando duvido disso.
Pra mim, que ainda estou aqui.
E estar aqui — mesmo cansada —
é a maior prova de resistência que existe.
8.O espelho que não reflete
Olho pra mim e não me reconheço.
Tem um rosto ali — o mesmo de sempre —mas o olhar é outro.
Cansado.
Apagado.
Como se tivesse se perdido dentro do próprio corpo.
Sinto falta da versão de mim que sonhava, que se emocionava com pequenas coisas, que ria sem medo de parecer boba.
Hoje, tudo em mim parece calculado, controlado demais pra não desabar de vez.
O espelho mostra o que sobrou, mas não o que eu perdi.
E talvez o que mais doa é saber que ninguém notou a diferença.
9. Eu ainda acredito (mesmo sem saber por quê)
Apesar de tudo — do peso, do cansaço, da ausência —ainda tem um pedaço meu que acredita.
Acredita que um dia vai amanhecer leve, que a dor vai diminuir sem precisar sumir, que alguém vai ouvir sem me corrigir.
É um pedacinho pequeno, quase imperceptível, mas é ele que me impede de desistir completamente.
Talvez seja teimosia, talvez esperança — ou só o costume de continuar.
Eu já perdi tanta coisa,
mas ainda não perdi a mim por inteiro.
E enquanto eu existir,
mesmo que em fragmentos,
ainda há chance de recomeço.
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