Havia uma alma em mim antes de você: cinza, imóvel, adormecida em ruínas.
E outra depois da tua chegada: trêmula, ferida, mas acesa como incêndio em cemitério.
Qual prefiro? A que se cala, ou a que sangra? Não sei. Só sei que ambas me pertence nenhuma me devolve paz.
Foram teus olhos que me arrastaram.
Não pela cor — âmbar indecifrável, ouro sujo de sombras.
Não pelo brilho — já apagado e triste.
Mas porque, através deles, aprendi a enxergar a vida como quem olha o mundo pela fenda de um abismo.
Tua presença foi faca e chama: acendeu esperanças e queimou meus abrigos.
Suas palavras diziam liberdade, mas teus gestos arrancavam os tijolos que eu levantei para sobreviver.
Procurei respostas e encontrei só mais labirintos.
A cada olhar, mais portas fechadas.
A cada silêncio, mais perguntas sem rosto.
Viver através das tuas janelas âmbar
é viver condenada ao fogo e ao frio.
É ser empurrada para a beira, e ainda assim desejar cair.
Se me perguntam qual alma escolho,
respondo: nenhuma.
A primeira morreu, a segunda apodrece.
O que resta é esse corpo, esse reflexo de areia movediça que se deixa devorar.
E, no fundo, talvez eu nunca tenha amado você —apenas amei o que teus olhos fizeram de mim: um vazio que finalmente aprendeu a ter forma.
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