domingo, 15 de setembro de 2024


"O Roteiro da Exaustão"


Às vezes, a gente se pega tentando repetir uma mentira para si mesmo. Eu queria poder dizer que estou bem, de verdade, que o peso do mundo não está me esmagando, que sou forte o suficiente para superar qualquer coisa. Queria dizer que o estresse vai passar, que a dor vai ceder. Mas, seria uma grande mentira.

A verdade é outra. O fardo está pesado demais. Muito. E já não sei como lidar. Relações que antes pareciam simples agora são enigmas insuportáveis. Não me sinto segura em nada. A mínima coisinha é suficiente para me derrubar, inflamar meu peito com uma tristeza que nem sei nomear. É como se o roteirista da minha vida se divertisse ao me ver no chão, aos prantos, testando meus limites.

Descida ao fundo do poço? Fácil. E ficar lá... bem, talvez seja a melhor opção agora. Porque lutar parece impossível, as forças se esvaíram, e a ideia de entregar os pontos soa como uma rendição inevitável. "Você venceu", eu diria ao roteirista. Porque, desta vez, quem pede para ser apagado da história é o próprio personagem principal. Já fui o herói, o vilão, o mocinho. Mas quando precisei ser resgatado, ninguém pôde me ajudar.

O eco repetitivo dentro de mim é uma mentira insistente: “Você não está cansada, você é forte, você consegue”. Mentiras, uma sobre a outra, até formarem uma muralha. Não sei pedir ajuda. Não sei aceitar ajuda. E, honestamente, já não sei nem se sei amar. Esta capa protetora que visto é pura ilusão. Sinto medo de machucar quem está ao meu redor, e a desconfiança sempre sussurra: o que essa pessoa quer de volta?

Às vezes, me vejo à beira do abismo, lutando contra um turbilhão de emoções que me arrasta para o fundo. A sensação de não conseguir escapar, de estar imobilizado pelo peso de uma realidade dolorosa, é esmagadora. Mas talvez, só talvez, eu esteja começando a ver uma pequena rachadura na muralha de mentiras que construí para me proteger.

Se a dor não cede e o estresse parece ser uma constante, talvez o caminho não seja lutar contra isso, mas permitir-me sentir. Aceitar que estar quebrado, cansado e desolado é parte da jornada. Às vezes, reconhecer a fragilidade é o primeiro passo para encontrar uma nova forma de força. 

A verdade pode ser dolorosa, mas é também um ponto de partida. Ao invés de tentar ser o herói invencível, talvez seja hora de abraçar a vulnerabilidade, de procurar um fio de esperança mesmo quando tudo parece escuro. Se o roteirista da minha vida está me testando, talvez eu possa, ao menos, me permitir fazer uma pausa e buscar uma ajuda sincera, sem o peso da expectativa de ser sempre forte.

E, quem sabe, ao enfrentar essa verdade crua, eu possa começar a ver uma nova história se desenhar, uma onde a aceitação e a vulnerabilidade não são sinais de fraqueza, mas de coragem. Porque, afinal, até mesmo os personagens principais podem precisar de um tempo para se encontrar, para se permitir ser ajudado e para, eventualmente, encontrar uma nova forma de ser.


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