domingo, 12 de janeiro de 2025

 O Peso do Silêncio

Reclamei da rotina. Reclamei do cansaço que me dobrava as costas, da pressa que me roubava os dias, da exaustão que se acumulava nos ossos como poeira esquecida. Mas agora, no compasso arrastado das horas vazias, percebo: a rotina ao menos me mantinha ocupada, me distraía dos ecos que habitam em mim. Era um peso, sim, mas era um peso familiar.

Agora, só comigo, descubro que meus pensamentos não são bons companheiros. São tempestades de céu fechado, nuvens negras que pairam sobre mim sem jamais se dissipar. Tento entender. Talvez seja o cansaço, talvez seja a mente me sabotando de novo, talvez seja só um ciclo... ou talvez um ciclo sem fim. Mas e se for? E se eu estiver fadada a esse peso, a essa inquietação que nunca dorme? Foda-se.

Tentei. Me cerquei de pequenas alegrias, desenhei caminhos, me movi na direção de qualquer coisa que parecesse sentido. Mas nada encaixa, nada flui, e minha mente, essa infeliz, nunca se cala. Sussurra que não posso parar, que não mereço descanso, que sempre há algo pendente, algo errado, algo prestes a ruir se eu ousar fechar os olhos por um instante.

E tudo o que eu queria era um pouco de silêncio.

Mas talvez pedir isso seja pedir demais.

Então escrevo. Escrevo como quem abre uma fresta para o ar entrar. Não espero resposta, não espero consolo. Só quero que essas palavras existam fora de mim, nem que seja por um instante. Porque, por mais sufocante que seja, falar ainda é a única maneira de não me perder completamente.

 • 𝗘𝘀𝗰𝘂𝗿𝗶𝗱𝗮̃𝗼 

No abismo da escuridão, estou perdida,
Tateio o vazio, busco um rosto, uma mão,
Mas só encontro o eco do meu próprio medo,
A respiração trêmula da solidão.

Esqueço que sou minha própria chama,
Que no breu ainda há faíscas a arder,
Mas meu brilho se apaga em lamentos,
Minha luz, trêmula, parece ceder.

Toda escuridão esconde uma fresta,
Toda sombra já foi claridade,
Mas e se o céu se esquecer das estrelas?
E se tempestade o mar se afogar na própria?

E se eu for apenas um vulto sem dono,
Um fantasma arrastado pelo tempo?
Se a sombra que carrego para meu próprio reflexo?
Se a dor é o que restou de um sentimento?

Seja sua luz, me disse um dia,
Mas como brilhar se o medo me cega?
Se a noite sussurra promessas vazias,
Se as sombras me tomam e a vida me nega?

Ainda assim, tento. Tropeço. Insisto.
Porque talvez, só talvez,
No último fio da escuridão,
Haja um lampejo esperando por mim.

 Memória


Te sepultei no passado,
Porque me falta ar no agora,
E o amanhã, cruel, não chega...

Te guardei em memórias frágeis,
Embrulhadas em véus de silêncio,
Para que não desbotem na penumbra,
Para que não se estilhacem no vazio.

Te escondi no abismo da gaveta,
Entre as relíquias dos dias perdidos,
Onde relacionam os fantasmas do que fui,
Do que deveria esquecer, mas não consigo.

Te enterrei no ontem,
Junto aos cacos de arrependimentos,
À ignorância que me cegou,
À dor sufocante e ao amor que me escorreu pelos dedos.

Tudo o que um dia você foi,
Tudo o que ainda queima dentro de mim.
Os sonhos que tingimos de cores vivas,
As promessas que evaporaram no tempo,
Os pedaços inacabados de uma história que nunca foi inteira.

O que hoje é sombra de nada.
O que jamais será luz.
E o que, perversamente, terá sempre um peso insuportável.

Carrego tudo, como uma âncora,
E quando meus olhos tocam seu retrato,
Vejo o reflexo de um mundo quebrado,
E entendo, com o gosto amargo da verdade,
Por que tudo isso
Agora é passado.


"O peso de um ano"



Esse ano foi um turbilhão.
Me afastei de pessoas que um dia foram meu alicerce,
tomei decisões que jurava nunca ter coragem de tomar,
e, mesmo carregando um desânimo pesado, aprendi coisas novas.
Houve tristeza, uma tristeza densa que me tomou de assalto.
Ri quando queria gritar, desabei quando ninguém viu,
me sabotei sem motivo, criei abismos onde havia terra firme.
Vi quem amo partir – amigos, companheiros, fragmentos do meu coração.
E, por vezes, quase parti junto.
Mas aqui estou.
Escrevendo mais do que nunca, tentando decifrar o caos interno.
Meus pensamentos se amontoam, enredam, sufocam,
mas, de alguma forma, aprendi a conviver com eles.
Pensei muito sobre autovalorização este ano.
E me dei conta de algo doloroso:
eu não sei me amar. Não sei me enxergar.
Mas me apavora perder quem amo.
Este ano foi brutal, foi intenso.
E mesmo com todos os tombos, não carrego arrependimentos.
Não mudaria nada.
De 2025, não espero milagres.
Espero mais de mim.

“Cartas que eu nunca enviei”

1. O peso do silêncio Há dias em que o corpo anda, mas a alma fica. Dias em que o riso vem automático, só pra cumprir o papel social de esta...