O Peso do Silêncio
Reclamei da rotina. Reclamei do cansaço que me dobrava as costas, da pressa que me roubava os dias, da exaustão que se acumulava nos ossos como poeira esquecida. Mas agora, no compasso arrastado das horas vazias, percebo: a rotina ao menos me mantinha ocupada, me distraía dos ecos que habitam em mim. Era um peso, sim, mas era um peso familiar.
Agora, só comigo, descubro que meus pensamentos não são bons companheiros. São tempestades de céu fechado, nuvens negras que pairam sobre mim sem jamais se dissipar. Tento entender. Talvez seja o cansaço, talvez seja a mente me sabotando de novo, talvez seja só um ciclo... ou talvez um ciclo sem fim. Mas e se for? E se eu estiver fadada a esse peso, a essa inquietação que nunca dorme? Foda-se.
Tentei. Me cerquei de pequenas alegrias, desenhei caminhos, me movi na direção de qualquer coisa que parecesse sentido. Mas nada encaixa, nada flui, e minha mente, essa infeliz, nunca se cala. Sussurra que não posso parar, que não mereço descanso, que sempre há algo pendente, algo errado, algo prestes a ruir se eu ousar fechar os olhos por um instante.
E tudo o que eu queria era um pouco de silêncio.
Mas talvez pedir isso seja pedir demais.
Então escrevo. Escrevo como quem abre uma fresta para o ar entrar. Não espero resposta, não espero consolo. Só quero que essas palavras existam fora de mim, nem que seja por um instante. Porque, por mais sufocante que seja, falar ainda é a única maneira de não me perder completamente.