Memória
Te sepultei no passado,
Porque me falta ar no agora,
E o amanhã, cruel, não chega...
Te guardei em memórias frágeis,
Embrulhadas em véus de silêncio,
Para que não desbotem na penumbra,
Para que não se estilhacem no vazio.
Te escondi no abismo da gaveta,
Entre as relíquias dos dias perdidos,
Onde relacionam os fantasmas do que fui,
Do que deveria esquecer, mas não consigo.
Te enterrei no ontem,
Junto aos cacos de arrependimentos,
À ignorância que me cegou,
À dor sufocante e ao amor que me escorreu pelos dedos.
Tudo o que um dia você foi,
Tudo o que ainda queima dentro de mim.
Os sonhos que tingimos de cores vivas,
As promessas que evaporaram no tempo,
Os pedaços inacabados de uma história que nunca foi inteira.
O que hoje é sombra de nada.
O que jamais será luz.
E o que, perversamente, terá sempre um peso insuportável.
Carrego tudo, como uma âncora,
E quando meus olhos tocam seu retrato,
Vejo o reflexo de um mundo quebrado,
E entendo, com o gosto amargo da verdade,
Por que tudo isso
Agora é passado.
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