domingo, 15 de junho de 2025

 Eu sou a margem que afoga


Eu te quero.
Mas querer não é o bastante quando se é ruína por dentro.

Às vezes, penso em deitar no teu peito e dormir o mundo.
Acordar em um universo onde eu saiba receber amor sem tremer.
Mas logo lembro que em mim tudo é labirinto,
e você, por mais que tente, vai acabar perdido.

Eu sou margem que parece terra firme,
mas afoga.
Sou beijo que arde depois,
abraço que aperta um pouco além do necessário,
como se já estivesse me despedindo antes de te ter.

Você diz que fica,
mas eu já ouço os passos indo embora,
mesmo com você parado bem na minha frente.
Meu medo tem o poder de criar partidas.
E meu amor, o dom de machucar quem tenta ficar.

Se eu pudesse, te amava leve.
Mas o que sinto por você é tempestade —
e eu não sei se você veio com guarda-chuva ou vontade de dançar na chuva.
Talvez esteja só tentando sobreviver a mim,
como quem beija um fantasma e torce pra não sumir depois.

E se eu sumir?

Talvez seja o melhor pra você.
Mas enquanto isso não acontece,
deixa eu ser teu caos manso.
Deixa eu te amar nas entrelinhas,
nos olhares que dizem tudo e se calam.

Porque mesmo quebrada,
ainda sonho com o dia em que você vai me tocar
e, por algum milagre,
eu não vou me despedaçar.

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