Flor morta no jardim
Não precisei morrer pra ser enterrada.
Você me sepultou viva —
em cada silêncio,
em cada promessa descumprida,
em cada olhar vazio
que dizia tudo sem dizer nada.
Cavou meu peito com palavras doces,
e adubou minha esperança com mentiras sutis.
Eu, cega pela ânsia de amor,
reguei cada gesto seu como se fosse certeza.
Mas só cresceram espinhos.
Agora eles se alojam na minha garganta
toda vez que tento responder
a pergunta que o mundo insiste em fazer:
"Você está bem?"
Não, eu não estou.
E mentir sobre isso virou meu novo idioma.
Desde que você virou ausência,
meu corpo virou ruína —
uma casa vazia onde ecoa o seu nome.
Minha pele carrega seus fantasmas,
meus olhos aprenderam a fingir luz
enquanto afundam em escuridão.
Você não percebeu, mas meu amor por você
foi o veneno mais lento e eficaz:
me matou aos poucos,
me diluiu em silêncio,
me engasgou com lembranças
e me quebrou em mil pedaços
que ninguém mais soube montar.
E o pior de tudo:
eu fui cúmplice.
Me entreguei de bandeja achando que era amor,
quando era apenas solidão bem disfarçada.
Não me restou redenção —
só o costume de sorrir sem alma,
de andar sem destino,
de respirar sem viver.
Fui flor plantada por você.
Agora sou morte viva
no jardim que você esqueceu de regar.
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