segunda-feira, 16 de junho de 2025

 

Sintoma com nome e sobrenome


Você não foi embora.
Você infeccionou.
Entrou devagar,
como quem cuida,
mas era vírus,
era veneno com gosto de beijo,
era abraço com corte por dentro.

Hoje não é mais amor,
é sintoma.
É febre que não cessa,
é a insônia com teu nome latejando no escuro,
é o enjoo de lembrar
que eu ainda queria você aqui.

Não foi só saudade,
foi a falência de tudo que me mantinha viva.
Minha mente sangra memórias,
meu corpo não responde mais
quando perguntam se estou bem.

Você me diagnosticou com ausência,
me receitou silêncio,
e eu, burra, obedeci —
tomei cada dose da tua distância
achando que era tratamento.

Agora ando por aí,
com olheiras de quem grita no travesseiro,
com dores que não têm laudo,
com um coração que bate como se pedisse desculpas por ainda existir.

Minhas recaídas têm teu cheiro,
meu colapso tem tua letra.
Toda vez que dizem “procura ajuda”,
eu penso:
era pra você ter sido ela.

Você não partiu,
você ficou —
como doença autoimune,
me fazendo me destruir
com tudo que você deixou.

E ainda assim,
às vezes, eu sinto saudade.
Não do que fomos,
mas do que eu achava que você era
antes de virar isso:
meu mal crônico.
Meu sintoma com nome e sobrenome.

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