O Gosto que Fica
Eu fico pensando se, no meio de tudo isso, meu gosto ainda vive aí.
Na sua língua.
Na memória do teu paladar.
No intervalo entre um beijo e outro, entre a pressa de esquecer e o eco do que a gente foi.
Você anda por aí tentando se limpar de mim. E eu sei — eu sinto — que você tem beijado outras bocas como se elas pudessem apagar a minha. Como se um corpo novo fosse suficiente pra expulsar o que ainda pulsa no fundo da tua garganta. Mas será que conseguiu?
Será que, mesmo sem querer, não sou eu que escapa quando você fecha os olhos no meio de um beijo apressado? Será que, por um segundo que seja, não é meu nome que quase escorre da tua boca antes de você engolir com vergonha?
Eu não tô mais aí, eu sei. Mas meu gosto ficou.
E não é só o gosto literal — é o gosto da minha risada, da minha raiva, da minha insistência em amar você mesmo quando você se perdia de si.
O gosto da minha presença. Da forma como eu te olhava como se ali tivesse um mundo.
Do jeito que eu te decifrava em silêncio, enquanto você ainda se fingia de indecifrável.
Talvez você diga que é exagero, que passou. Mas se passou, por que você ainda procura um beijo que se pareça com o meu?
Por que sua língua ainda tateia rostos como se buscasse a rota de volta?
Eu tô aqui, inteira, mesmo depois de me despedaçar por dentro.
Você tá aí, tentando esquecer.
E talvez consiga um dia.
Mas até lá…
Entre um beijo e outro, vai ser meu gosto que te interrompe.
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