Sou areia movediça —
cada passo meu afunda um pouco mais,
e o chão que me segurava já não tem pressa em salvar.
A pele raspa no silêncio dos grãos,
e eu vou cedendo — devagar, sem alarde —
até que o peso vira costume e o susto, memória.
Quero que tudo acabe como quem fecha um livro:
sem epílogo prolongado, sem visitas à cena do crime.
Que a página vibre só o tempo do último ponto,
que o resto se dissolva em pó e vento.
Não quero fogo nem heróis; só um fim simples,
uma linha final que me permita finalmente silenciar.
Me misturo ao lugar que me consome,
e meus dedos já não encontram bordas.
Peço por um término honesto,
por um fim que não me force a fingir que não afundo.
Deixa que a terra me tome inteira —
sem espetáculo, sem plateia, só o abraço frio do último instante.
Sou areia. Sou quedas repetidas.
E, por ora, só desejo que algo termine.
Que o afundar tenha fim — e não mais recomeço.
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