quinta-feira, 25 de julho de 2024


 A Sua Verdade


Qual seria a essência da dor de viver? É meramente existir. Para amadurecer e alcançar a auto compreensão, é imperativo atravessar experiências que são inimagináveis para alguns, enquanto outros permanecem como crianças eternas, intocados pelas adversidades. São aves adultas protegidas pela asa materna, destituídas da coragem para alçar voo, confinadas a uma visão limitada aos arredores do ninho.

Em contraste, aqueles que ousam voar, que caem e se ferem, que fogem dos predadores, revelam a verdadeira essência da sabedoria. Não se contentam com uma visão restrita; almejam compreender o mundo em sua totalidade. Com suas asas machucadas e as dores que carregam, vêm o conhecimento e o poder do saber. Buscam incessantemente sua própria verdade, indiferentes às opiniões alheias, pois não há nada mais sublime do que a própria verdade.

Afinal, não existe uma verdade absoluta. Há, sim, aquilo em que você acredita, aquilo em que seu amigo acredita, até mesmo aquilo em que uma pessoa à beira da morte acredita. Cada indivíduo possui sua própria verdade e crença, inalterável por outrem. Assim é a vida: permeada por dores e sofrimentos. Mas o que se há de fazer? A verdade é implacável, porém construtiva. É nas dores que se edifica e traz o propósito de viver além das grades, contemplando o vasto horizonte do que é revelado.

sexta-feira, 19 de julho de 2024


 A Última Chama

 

Em uma pequena aldeia, Maria vivia em uma humilde casa de madeira com sua filha, Ana. A vida era difícil, e as noites de inverno eram especialmente cruéis. Um dia, uma tempestade inesperada devastou a aldeia, deixando Maria e Ana sem nada além das roupas do corpo e um cobertor velho.
Refugiadas em um abrigo improvisado, Maria e Ana enfrentavam o frio penetrante. Com os alimentos escassos, Maria decidiu fazer um sacrifício. Escondeu uma pequena caixa de fósforos, seu único recurso para acender uma fogueira, para usar em um momento crítico. Cada dia era uma batalha contra a fome e o frio.
Uma noite, o frio se tornou insuportável. Maria, com mãos trêmulas, pegou a caixa de fósforos e disse a Ana que iriam fazer a fogueira mais bonita que já viram. Enquanto acendia o primeiro fósforo, Maria lembrou-se das histórias que contava a Ana sobre tempos melhores e sobre o poder dos sonhos e da esperança.
Com o último fósforo, Maria conseguiu acender uma pequena fogueira. Abraçadas, as duas se aqueceram pela primeira vez em dias. Maria contou histórias sobre um futuro melhor, sobre uma primavera que traria flores e dias ensolarados. A chama, embora pequena, iluminava o rosto de Ana, e seus olhos brilhavam com uma mistura de lágrimas e esperança.
Ao amanhecer, a tempestade havia passado, e a aldeia começava a se reunir e a reconstruir. A chama que Maria acendeu, tanto literal quanto metaforicamente, manteve viva a esperança em Ana. Anos depois, Ana cresceu e se tornou uma líder na aldeia, sempre contando a história da última chama que sua mãe acendeu, ensinando a todos sobre resiliência e a importância de nunca perder a esperança, mesmo nas noites mais escuras. Ela implementou programas para ajudar as famílias a se prepararem para invernos rigorosos e tempestades, criando abrigos seguros e estocando provisões para tempos difíceis.
Ana também começou a realizar encontros semanais, onde as pessoas se reuniam ao redor de fogueiras para compartilhar histórias de superação e encorajamento. Esses encontros fortaleceram os laços da comunidade e inspiraram os aldeões a apoiarem uns aos outros. A história da última chama de Maria tornou-se uma lenda local, simbolizando a força e o espírito indomável dos aldeões.
Em um desses encontros, uma jovem aldeã perguntou a Ana como ela conseguia manter a esperança viva. Ana sorriu, olhou para o céu estrelado e respondeu: "Minha mãe me ensinou que, por menor que seja a chama, ela pode iluminar a mais profunda escuridão. A esperança não é apenas esperar que os tempos melhorem, mas trabalhar juntos para torná-los melhores."
Com o passar dos anos, a aldeia floresceu. O inverno nunca mais parecia tão cruel, pois a memória de Maria e sua última chama continuava a aquecer os corações de todos. Ana, agora uma mulher sábia e respeitada, olhava para o futuro com otimismo, sabendo que a chama de esperança que sua mãe acendeu jamais se apagaria.
E assim, a história de Maria e Ana perpetuou-se, ensinando gerações sobre a importância da coragem, da resiliência e, acima de tudo, da esperança que vive em cada um de nós, mesmo nas noites mais escuras.

"Lágrimas Noturnas"


Na quietude da noite, ouço meu pranto,

Um lamento sussurrado, de dor e desencanto.

As estrelas, testemunhas silenciosas,

Brilham indiferentes às minhas prosas.


Meu coração, um campo devastado,

Pelos ventos da tristeza, sempre açoitado.

Cada batida é um grito abafado,

De um amor perdido, nunca recuperado.


Sento-me à janela, observando a escuridão,

Procurando respostas na imensidão.

Mas o vazio me envolve, sem compaixão,

E a solidão é minha única canção.


As lembranças vêm como fantasmas traiçoeiros,

Revivendo momentos que foram verdadeiros.

Mas agora são apenas sombras passageiras,

De uma felicidade que se foi, sem eiras.


As lágrimas caem, solitárias e frias,

Em um rosto marcado por tantas agonias.

A dor é uma companheira que não se sacia,

Um fardo pesado, que sempre me guia.


Assim, sigo em frente, na penumbra da existência,

Procurando um alívio, uma nova essência.

Mas a tristeza é profunda, uma velha ciência,

E nas lágrimas noturnas, encontro a minha essência.



quinta-feira, 18 de julho de 2024



 Emaranhados de Sentimentos

No jardim dos meus pensamentos, floresce um sentimento novo, mas entrelaçado ao antigo. 

Vejo pétalas de paixão e espinhos de confusão.

Você, com seu olhar, traz uma brisa fresca, mas as memórias do passado ainda sussurram com o vento.
O coração, em seu compasso desordenado, bate entre dois mundos. 

Uma parte de mim ainda anseia pelo conforto do ontem, enquanto a outra é atraída pela promessa do amanhã.
Me sinto como uma maré indecisa, que ora avança, ora recua, acariciando a areia de duas praias.

 Meu espírito, dividido, procura respostas no silêncio.
Ah, se pudesse desfazer os nós que o tempo teceu em mim, talvez pudesse navegar livremente, sem medo de me perder.
Mas, até lá, carrego comigo essa dualidade, esperando que o sol da verdade ilumine meu caminho, revelando a direção que meu coração deve seguir.


O Último Quadro


Thamires Souza

Carlos era um artista renomado que, após a morte de sua esposa, perdeu a inspiração.
Seus dias tornaram-se uma rotina cinza, sem cor, assim como suas telas inacabadas. Um
dia, ao arrumar o sótão, encontrou um velho diário de sua esposa. Nele, ela descrevia
seu amor por ele e seu desejo de vê-lo feliz e criando novamente.
Determinou-se a pintar um último quadro em homenagem a ela. Dia após dia, Carlos
enfrentava o vazio da tela branca, lutando contra a dor e a saudade. Aos poucos, as
pinceladas começaram a fluir, carregadas de memórias e sentimentos. O quadro tomou
forma, revelando o retrato de sua esposa, radiante e serena.
Ao terminar, Carlos sentiu um misto de alívio e tristeza. Colocou o quadro na parede
principal do estúdio e, pela primeira vez em anos, sorriu com sinceridade. Naquele
instante, percebeu que não estava apenas pintando para ela, mas também para si mesmo.
A arte o ajudou a reencontrar a paz e a aceitar a perda.
A exposição do quadro atraiu olhares de todo o mundo. As pessoas viam mais do que
uma imagem; sentiam a profundidade do amor e da dor transformada em beleza. Carlos
redescobriu a alegria de criar e a capacidade de amar novamente, sabendo que, de certa
forma, ela sempre estaria ao seu lado, inspirando-o em cada traço e cor.
A obra tornou-se um símbolo de esperança e superação, lembrando a todos que o amor
verdadeiro transcende a morte e se manifesta na beleza da criação. Carlos foi convidado
para falar sobre sua jornada em diversas galerias e eventos, compartilhando sua história
com aqueles que também lutavam para encontrar luz após a escuridão.
Inspirado pela resposta positiva, ele iniciou um projeto para ajudar outros artistas a
canalizar suas emoções na arte, fundando um centro de apoio onde criatividade e cura se
encontravam. O quadro de sua esposa tornou-se o coração desse centro, uma lembrança
constante de que a arte tem o poder de transformar dor em beleza, perda em inspiração.
Carlos encontrou um novo propósito, dedicando sua vida a espalhar a mensagem de
que, mesmo nas sombras mais profundas, a luz do amor e da criatividade pode brilhar
intensamente. Seu legado cresceu, tocando vidas e inspirando corações, provando que a
verdadeira arte nasce das experiências mais íntimas e universais da condição humana.

 O Espelho do Mundo

Thamires Souza

 

Joana era uma mulher de meia-idade que morava numa pequena cidade à beira-mar. Sua vida era tranquila, quase monótona, dividida entre o trabalho na biblioteca municipal e as tardes de chá com sua velha amiga, Dona Laura. O mar, no entanto, sempre representou uma janela para algo maior, algo além da vida simples que ela levava.
Um dia, enquanto passeava pela praia, Joana encontrou um espelho peculiar semienterrado na areia. Era um objeto antigo, com uma moldura de madeira entalhada em detalhes minuciosos que lembravam ondas e conchas. Curiosa, Joana limpou o espelho e olhou seu próprio reflexo.
Para sua surpresa, o espelho não mostrava apenas a sua imagem. Mostrava lugares distantes, paisagens exóticas e culturas diversas. Joana viu florestas tropicais, desertos áridos, cidades futuristas e aldeias antigas. Cada vez que olhava no espelho, uma nova visão de um mundo desconhecido aparecia.
Intrigada, Joana começou a levar o espelho para a biblioteca, usando suas pausas para explorar essas visões. Cada imagem refletida trazia consigo sons, cheiros e até sensações táteis, como se ela estivesse realmente visitando esses lugares. Joana começou a escrever sobre suas experiências, descrevendo em detalhes as maravilhas que via.
Com o tempo, as histórias de Joana começaram a atrair a atenção dos moradores da cidade. Eles vinham à biblioteca não apenas para ler, mas para ouvir Joana contar sobre suas "viagens". O espelho tornou-se um segredo compartilhado, uma janela para o mundo além do mar.
Um dia, enquanto Joana explorava mais uma visão, viu uma versão dela mesma, mais jovem, sorrindo de um lugar que parecia ser um mercado vibrante em uma terra distante. A jovem Joana acenou, convidando-a para atravessar o espelho. Sem hesitar, Joana deu um passo à frente e sentiu-se sendo puxada para dentro do vidro.
Quando abriu os olhos, Joana estava no meio do mercado. O calor, os aromas, a energia do lugar a envolviam completamente. Ela percebeu que o espelho não era apenas uma janela para ver o mundo, mas uma porta para vivê-lo.
Joana decidiu não voltar. Deixou uma carta para Dona Laura, explicando sua decisão e dizendo que o espelho agora pertencia à cidade. Pediu para que continuassem a usá-lo, a explorar e a expandir suas próprias visões de mundo.

quarta-feira, 17 de julho de 2024


 

"Espero-te"



Tuas unhas me rasgam a carne,

cada toque é um sussurro flamejante,

minhas entranhas se agitam em desordem,

minha pele implora e arde.


Mergulho em desejos insaciáveis,

perdido nas sombras do anseio,

mas sei que te quero sem hesitação,

e em cada instante mais te venero.


Aprendi a beijar-te sem tocar,

meus lábios suspiram pelos teus,

mas também conhecem a doce espera

por teus beijos tão deliciosos.


Entre meus desamores e desprazeres,

desapegos e dores profundas,

esqueço-me de tudo,

somente ao te contemplar.


Sob a Abóbada da Floresta Interior



No coração da floresta, onde o silêncio sussurra segredos ancestrais, ele caminhava. Os troncos das árvores erguiam-se como sentinelas imponentes, suas copas entrelaçadas formando uma abóbada verde e viva. Cada passo que dava, a terra sob seus pés reverberava com ecos de tempos passados, e ele sentia-se envolto numa manta de memórias.

A brisa suave acariciava seu rosto, trazendo consigo o cheiro pungente da terra molhada e das folhas em decomposição, uma lembrança olfativa de sua própria transitoriedade. As folhas caídas formavam um tapete macio, cada uma contando a história de verões que se foram e invernos que hão de vir. Ele caminhava devagar, permitindo que a tranquilidade do lugar invadisse seu ser, penetrando cada fibra de sua alma.

Enquanto avançava, as árvores sussurravam palavras inaudíveis, e ele podia quase entender o que diziam. Eram histórias de crescimento e perda, de luta e resiliência. Cada galho retorcido, cada tronco marcado, espelhava as cicatrizes que carregava dentro de si. As raízes profundas, invisíveis aos olhos, lembravam-no das suas próprias raízes, escondidas, mas vitais.

A cada curva do caminho, ele encontrava fragmentos de sua vida. Uma clareira iluminada pelo sol filtrado trazia à tona risos esquecidos, enquanto uma sombra mais densa evocava lágrimas reprimidas. Era um mosaico de emoções, entrelaçadas tão intrinsecamente quanto os galhos acima de sua cabeça.

Então, na profundidade da floresta, ele chegou a um lago cristalino, escondido e sereno. A água espelhava o céu e as árvores, um reflexo perfeito do mundo ao seu redor e do mundo dentro de si. Sentou-se à beira, contemplando seu próprio reflexo, e viu mais do que apenas sua imagem; viu suas esperanças e seus medos, suas alegrias e suas dores.

De repente, uma tempestade se formou no horizonte, nuvens negras surgiram como sombras de pensamentos sombrios. O vento aumentou, sibilando através das árvores, e a chuva começou a cair em pesadas gotas prateadas. Ele não se moveu, deixando-se banhar pela tempestade, sentindo cada gota como uma purificação. A fúria do céu era a fúria de sua própria alma, e enquanto a tempestade rugia, ele enfrentava seus demônios internos.

E então, assim como veio, a tempestade passou. As nuvens dissiparam-se, revelando um céu azul cristalino. O sol surgiu, suas cores vibrantes refletindo na superfície do lago, e ele sentiu uma calma profunda, uma paz que brotava do fundo de sua alma renovada. Levantou-se, deixando a clareira atrás de si, e enquanto caminhava de volta, carregava consigo a certeza de que, assim como a natureza, ele também podia se renovar, crescer e florescer após a tempestade.


" Falhas"

Sinto a sua falta

Enquanto o mundo gira 

Eu tô aqui, tentando reconquistar 

O sentimento perdido, culpa minha

Que foi perdido

Eu falhei, errei, fiz besteira, eu sei

Se ao menos no tempo eu pudesse voltar 

Cada palavra má, se eu pudesse retirar 

Te magoei, me perdoe 

Eu sonhei, sonhei em te ver feliz 

Mais pra quê? Mais pra quê? Se isso nem tanto tempo durou 

Eu gastei cada palavra, tentando viva te manter.

O perdão já não é mais válido, me vê como outra pessoa agora

E olha, sem querer te ofender 

Sei que te machuquei, mais acho que isso não tem necessidade do nosso futuro acabar assim 

Enquanto o mundo gira, eu tô aqui preocupado, tentando recuperar o sentimento perdido 

Eu falhei, errei, eu fiz besteira, eu sei

Se ao menos no tempo eu pudesse voltar

Cada palavra má eu pudesse retirar, e pensar 

Que eu falhei, errei, uma segunda chance? Talvez 

Se ao menos no tempo eu pudesse voltar

Tentando de novo te consolar, igual aquela vez

Sou humano, tenho falhas, não quis te magoar, mais o destino quis assim, então só o tempo nos dirá

Eu falhei, errei, eu fiz besteira, eu sei

Se ao menos no tempo eu pudesse voltar

Cada promessa feita, descartada 

Igual a nada

Arrumei alguém pra proteger e amar, mais eu

Falhei, errei, eu fiz besteira, eu sei 

Se ao tempo você pudesse me perdoar

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Resenha: As Três Marias da autora modernista Rachel de Queiroz.

A resenha foi escrita por Lediane Santos Souza e estou compartilhando.

Leia a resenha sobre "As Três Marias" de Rachel de Queiroz, onde Lediane explora a vida das protagonistas Maria Augusta, Maria José e Maria da Glória, destacando os desafios da juventude no Nordeste brasileiro.

Ela analisa o contexto histórico e social da obra, discutindo a influência do modernismo e a importância de Rachel de Queiroz na literatura brasileira. Lediane oferece uma visão perspicaz e detalhada, homenageando a autora e revelando suas próprias habilidades críticas. 

Você pode encontrar este trabalho no blog  Leitores do Mundo para Leitores das Letras.

“Fala-se muito na crueldade e na bruteza do homem medievo. Mas o homem moderno será melhor?” (Rachel de Queiroz).

  O Modernismo movimento artística/literário alcança o reconhecimento após a Semana de Arte Moderna em 1922, traz grandes novidades e rupturas com os padrões românticos que predominavam. Nossos artistas brasileiros desejavam romper com a imitação do vanguardismo europeu, alcançando assim uma identidade genuína brasileira. Durante esse movimento grandes expoentes surgiram: Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, João Guimarães Rosa, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto e tantos outros considerados e exaltados.

  O objetivo aqui é analisar a obra “As três Marias” de Rachel de Queiroz, que foi considerada assim como outras/outros, influenciadora de uma época.  A resenha proposta aqui relaciona como o feminino aparece no romance de Rachel de Queiroz, e a crítica feito ao romance por outro grande expoente do modernismo: Mário de Andrade.

Raquel de Queiroz

  Rachel de Queiroz mulher cearense, nascida em 1910 em Fortaleza, no dia 17 de novembro. Em 1917 sua família foge da seca em busca de novas oportunidades, passam por vários locais, Belém e depois de um tempo retornam ao Ceara. Desde muito nova engajar em produções em jornais revistas e com pouco mais de dezesseis anos publica o “O quinze” (1930), onde foi aceito em parte pela critica, pois acreditavam que Rachel de Queiroz era apenas um pseudônimo para esconder a identidade do verdadeiro autor, que achavam tratar-se de um homem. A escrita forte e moderna faz esgotarem os exemplares do primeiro livro da autora e após uma segunda leva manda o para são Paulo e rio de janeiro onde alcança novos autores entre Mario de Andrade que faz uma critica favorável a escrita de Rachel, não deixando de ser preconceituosa, ele dizia que tal obra nem parecia ser escrita por uma mulher nova.  Desmerecendo o talento da autora. Rachel não se abate e em 1939 lança seu terceiro romance “As três Marias”, obra que aqui será discutida.

  O lançamento do livro culmina em uma nova fase da autora, que apesar de não se considerar feminista mostra ao longo de sua narrativa seus anseios e sonhos em relação ao papel social da mulher, ainda mais aliado ao fato de seu romance tratar de ser um texto autobiográfico como muitos estudiosos defendem.

  As três Marias iniciam a sua saga em um internato dirigido por freiras, o apelido é dado às três meninas: Maria Augusta (Guta), Maria da Glória, Maria José. À noite deitadas no gramado se reconhecem na constelação da qual originam seus nomes, a estrela de cima é Maria da Glória, resplandecente e próxima. “Maria José se identifica com a da outra ponta, pequenina e trêmula. A do meio, serena e de luz azulada, é Maria Augusta – ou simplesmente Guta, como sempre preferiu ser chamada”.

(…) nossa comparação com as estrelas foi como uma embriaguez nova, um pretexto para fantasias, e devaneios. (…) À noite, ficávamos no pátio, olhando as nossas estrelas, identificando-nos com elas. Glória era a primeira, rutilante e próxima. Maria José escolheu a da outra ponta, pequenina e tremente. E a mim me coube a do meio, a melhor delas, talvez; uma estrela serena de luz azulada, que seria decerto algum tranquilo sol aquecendo mundos distantes, mundos felizes, que eu só imaginava noturnos e lunares.

Guta é uma menina de doze anos, que é mandada ao internato por sua madrasta que trata- lhe bem, mas apesar disso envia-a ao internato. Guta perdeu a mãe cedo e chegar à nova escola cheia de expectativa e ao mesmo tempo saudades de casa.

Nádia LippiGlória Pires e Maitê Proença interpretam as três protagonistas, jovens conhecidas como “As Três Marias”,  telenovela brasileira produzida e exibida pela Rede Globo de 10 de novembro de 1980 a 16 de maio de 1981, Escrita por Wilson Rocha e que foi substituído por Walther Negrão ainda no primeiro mês, é baseada no romance de mesmo título de Rachel de Queiroz, com direção geral de Herval Rossano.

“Na cama – tudo calado – (…) minha tristeza afinal explodiu, e chorei, chorei até esgotar todos os soluços, todas as lágrimas, chorei até dormir, exausta, desarvorada, rolando a cabeça dolorida, sem repouso, no travesseiro quente e duro.”

Assim com o passar do tempo Guta conhece as outras duas Maria Jose e Maria da gloria, elas criam laços de amizade dividindo experiências e esperanças de uma vida melhor. O tempo passa e todas tornam se adultas, elas têm quê agora lidar com a dureza da realidade.

  Cada Maria tem uma personalidade e apesar da amizade entre elas cada uma segue um caminho. Guta que é quem narra toda a história retorna para casa, mas não se contenta com os afazeres da casa e anseia pela liberdade. Gloria segue os padrões sociais, impostos a mulher e casa-se, então seu destino cabe servir ao marido e filho em uma vida monótona.  Maria José entrega-se a vida religiosa longe de qualquer prazer da vida e do mundo torna se uma mulher regrada e cheia de tabus.

Maria augusta, Guta não conhece o casamento e nem tão pouco agradou se da vida religiosa, “seu lema era ser livre do casamento e religião”, queria sua vida como os romances que lia na infância, mas o descaso dos homens com seus sentimentos a fazia sentir se cada vez mais solitária.

  Nossa protagonista se ver querendo alçar vôos e ver na partida de sua casa como pista de decolagem para uma nova vida, assim vai para fortaleza e inicia seu trabalho em um jornal como datilógrafa e ver a felicidade dar sinais, contudo com o passar do tempo aquilo já não a satisfaz mais, pois era da casa par o trabalho e vice versa. Mesmo se vendo como dona de si ela e vencida pela monotonia mais uma vez.

“Comecei a trabalhar. E parecia-me que a felicidade começava. Viver sozinha, viver de mim, viver por mim, livrar-me da família, livrar-me das raízes, serem sós, ser livre!” Pág.: 52.

Guta queria conhecer os prazeres do mundo. Passa por vários indagações e conflitos internos, nossa heroína que a toda tempo aproxima da autora, Rachel, vai mora com Mara Jose, onde conhece Raul, homem, mas velho que queria apenas uma amante e que tem um encontro violento com Guta o que a faz recuar deste relacionamento de certa forma abusivo.

  Passados vários empecilhos, Guta foge ao saber que seu amigo Aluísio comete suicídio e diz em carta que foi por causa dela. Ela segue para o Rio de Janeiro onde novamente experimenta o sentimento de incompletude… Até que conhece Isaac; ele devolve a Guta uma felicidade que a muito não sentia. Assim como tão importante a ele se entrega com todo o amor, mas como tudo na vida dura pouco e ela mais uma vez tem que retorna a Fortaleza para mesmo marasmo.

  Nossa heroína adoece e perde aquilo que seria o seu pedacinho de Isaac e volta para o ponto de partida, sua casa no sertão. Seu ponto inicial.

   Agora, apesar do final angustiante que deixa o leitor com uma ideia de impotência em relação ao destino, Rachel demonstra com sua escrita clara e objetiva os vários seguimentos sociais. Os papéis femininos de protagonismo em um momento histórico (1939), em que tratava as mulheres como algo menor, e em que os homens são jogados para o segundo plano, leva a ver que as temáticas da autora que mostra o papel da mulher como heroína e dona de si. Guta ao ir atrás de sua completude mostra que os únicos caminhos dedicados a mulher, o casamento a religiosidade ou a prostituição, podem e devem ser quebrados naquela época e ainda hoje.

  A crítica social em relação ao patriarcado na sociedade não foi visto com bons olhos por muitos homens, um deles considerado importante para o modernismo. Mario de Andrade, que anteriormente havia exaltado a obra de Rachel, nesse momento desmerece a obra fazendo critica a feminilidade com a qual Queiroz, ele afirma que:

“Outro dado importante da feminilidade do livro é uma tal ou qual fraqueza vingativa no analisar os homens e buscar compreendê-los com maior exatidão. Não nos esqueçamos, no entanto, que se trata da mesma artista que desenhou “João Miguel” com tão poderosa humanidade. Mas agora afirma coisas assim: “Talvez os homens usem as ternuras do amor como empregam os “encantado em conhece-la” na rua.” […] é verdade que a analista põe tudo num dubitativo inquieto, mas não será este o único instante em que ela se vinga do eterno masculino, lhe penetrando pouco ou mal a incapacidade de grandeza.” Pág.: 62.


Ao lermos a crítica vemos concentrados os desmandos da sociedade que caem sobre a mulher, ao passo que os papéis masculinos tratados colocaria Raquel em seu romance como vingativa, Mário deixa claro o seu ego masculino machucado, dolorido por tamanho do protagonismo da mulher, que mostra toda feminilidade e força independente dos processos, que limitam a mulher, mostrando uma nova perspectiva em que nem toda mulher o casamento e ter filhos será o único caminho, assim Andrade e volta atrás em relação a crítica que faz anteriormente e desconsidera o papel social da obra. A crítica de Mário de Andrade traz discussões a que ocorre até a atualidade, quando o feminismo combate o patriarcado e toda forma de violência seja ela física ou psicológica, ele trata do parto como se fosse algo simples e critica o que é caracterizado por Rachel como vemos a seguir:

“O parto parece estar para a escritora em íntima conivência com a morte. Aliás, para Maria Augusta, que é quem conta a história, essa ligação do parto com a morte é impressionante legítima, pois que ela perde o filhinho nascituro.”

Embora as críticas tiveram papel importante, por confirma a visão de Rachel em relação à sociedade, ler “As três Marias” com olhos afinados para o papel da mulher.

Esse romance não tem apenas valor literário, mas também valor histórico social, e um marco na nossa literatura brasileira. Recomendo a leitura que se faz fácil com linguagem clara, direta levando ao conhecimento o final dos personagens ate onde possível.

Referências Bibliográficas:

MORICONI, Ítalo. Como e por que ler a poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

ANDRADE, M. de. O Empalhador de Passarinhos. Belo Horizonte: Itatiaia, 2002.

QUEIROZ, Raquel. De. As Três Marias. Ceará: José Olympio, 1939.






Escultura do Desejo"

Na vastidão do meu anseio, a contemplação,

Seu riso tímido, fonte do meu desejo.

Lábios voluptuosos, toque sublime,

Perfeita união em nossa comunhão.


Sentimos na dança dos beijos ardentes,

Amamo-nus sem reservas, intensamente.

Química sublime, na alcova, o fervor,

Por que fugir da atração, do calor?


Com minhas mãos, esculpo teu semblante,

Nosso ritmo, um êxtase pulsante.

Meu vinho, após traçar teu contorno,

Celebra nosso amor, elo eterno.


Tua mão que modela e configura,

Meu corpo, obra-prima de ternura.

Seremos estátuas, nus em verdade,

Na escultura do amor, nossa eternidade.

domingo, 7 de julho de 2024

 

Sopa de Emoções



Eu anseio por chorar...
Mas, as lágrimas não desabrocham em meu semblante.
Sinto-me como um marinheiro perdido em pleno mar bravio,
À procura de um porto seguro...
O temor do que se esconde nas águas,
São monstros, são minhas inseguranças...
Um megalodon de ansiedade,
Que devora meu coração com uma crueldade impiedosa...
Mas, eles não são reais... certo?
Insegurança não passa de medos que se aninham em minha mente...
Pensamentos que me trespassam de terça a terça...
E me deixam amargurado,
Apertam meu coração
Que me deixam paralisado...
Apenas por não saber,
Dominar essa emoção...


APODRECENDO O ÉDEN



A vontade de gritar entalada na garganta, a raiva que marca o corpo e alma, cansada sem medida que possa medir.

Fugindo do contato de alguém que a ver, mas não à enxerga.

Cega, cega, cega…

Cheia de estar ou como os puros querem que esteja, exemplo de mulher, esposa e mãe, de alguns que nem deveria ser seus.

Peso, peso, peso.

Cobrança de um mundo inconsciente, sem saída que parece ter chegado a uma encruzilhada do ser e do ter e do querer.

Porque, porque, porque

Estraçalha, grita, fala, briga, só não fica com isso aí dentro apodrecendo o éden do seu ser.

Grita!

By LEDI SOUZA


sábado, 6 de julho de 2024

 

“Pra quê cê usa sua língua”

Língua que percorre o corpo

Que molha a alma
Transparece o instinto
Que tira a calma
Começando na boca…
Envolvendo com o sabor,
De ser o que eis.
Sem medo!
Dominando!
Pro-vo-can-do
Não para até entorpeci
Com essa língua que é puro prazer.

Surto de sentidos

By Lediane Santos Souza

“Cartas que eu nunca enviei”

1. O peso do silêncio Há dias em que o corpo anda, mas a alma fica. Dias em que o riso vem automático, só pra cumprir o papel social de esta...