terça-feira, 21 de outubro de 2025

“Cartas que eu nunca enviei”

1. O peso do silêncio

Há dias em que o corpo anda, mas a alma fica.

Dias em que o riso vem automático, só pra cumprir o papel social de estar viva.

Por dentro, tudo é ruído, e o mundo gira rápido demais pra quem só queria deitar e sumir por um tempo.

Eu tento dizer, mas ninguém escuta.

E quando escutam, respondem sobre si.

Então eu me calo — e o silêncio grita.

2. Eu e a insônia

Me forço a dormir pra fugir do escuro — irônico, né?

O escuro já mora em mim.

Deito tentando apagar, mas o peso vem antes do sono.

Não sei se tô cansada de viver ou de fingir que vivo bem.

Tem noites que penso: “ninguém notaria se eu não acordasse amanhã”.

E mesmo assim, eu acordo.

E recomeço o disfarce.

3. A solidão travestida de força

Dizem que estar só é liberdade.

Mas esquecem de avisar que liberdade demais também sufoca.

Aprendi a chamar minha solidão de “autocuidado”,

me convenci de que era evolução.

Mas às vezes, a solitude é cela,

e eu sou a própria carcereira.

4. O molde vazio

Eu apareço.

Trabalho, estudo, rio.

Cumpro papéis, falo frases prontas,

faço tudo o que esperam de mim.

Mas dentro, é só eco.

Um corpo cheio de obrigações e vazio de sentido.

Presença não é sinônimo de existência.

E eu já não sei qual das duas eu sou.

5. Falência emocional

Não é drama.

É falência.

Meu estoque de paciência acabou.

Minha energia, vencida.

Eu tô quebrada, mas ninguém nota —

talvez porque aprendi bem o disfarce.

Sorrir virou sobrevivência.

Mas sorrir dói.

6.E se ninguém ficar?

Eu já entendi que, às vezes, o que a gente precisa não é ser salvo.

É só ser visto.

Não quero pena, nem promessas de “vai passar”.

Quero um olhar que me reconheça, que entenda que mesmo cansada, eu ainda tento.

E se ninguém ficar, que eu fique comigo.

Mas, dessa vez, com ternura.

7. Dedicatória a mim mesma

Pra mim, que carrego mundos e ainda tento ser leve.

Pra mim, que choro escondida, mas continuo aparecendo.

Pra mim, que escrevo pra não sufocar.

Pra mim, que mereço amor, mesmo quando duvido disso.

Pra mim, que ainda estou aqui.

E estar aqui — mesmo cansada —

é a maior prova de resistência que existe.

8.O espelho que não reflete

Olho pra mim e não me reconheço.

Tem um rosto ali — o mesmo de sempre —mas o olhar é outro.

Cansado.

Apagado.

Como se tivesse se perdido dentro do próprio corpo.

Sinto falta da versão de mim que sonhava, que se emocionava com pequenas coisas, que ria sem medo de parecer boba.

Hoje, tudo em mim parece calculado, controlado demais pra não desabar de vez.

O espelho mostra o que sobrou, mas não o que eu perdi.

E talvez o que mais doa é saber que ninguém notou a diferença.

9. Eu ainda acredito (mesmo sem saber por quê)

Apesar de tudo — do peso, do cansaço, da ausência —ainda tem um pedaço meu que acredita.

Acredita que um dia vai amanhecer leve, que a dor vai diminuir sem precisar sumir, que alguém vai ouvir sem me corrigir.

É um pedacinho pequeno, quase imperceptível, mas é ele que me impede de desistir completamente.

Talvez seja teimosia, talvez esperança — ou só o costume de continuar.

Eu já perdi tanta coisa,

mas ainda não perdi a mim por inteiro.

E enquanto eu existir,

mesmo que em fragmentos,

ainda há chance de recomeço.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Âmbar

Havia uma alma em mim antes de você: cinza, imóvel, adormecida em ruínas.

E outra depois da tua chegada: trêmula, ferida, mas acesa como incêndio em cemitério.

Qual prefiro? A que se cala, ou a que sangra? Não sei. Só sei que ambas me pertence nenhuma me devolve paz.

Foram teus olhos que me arrastaram.

Não pela cor — âmbar indecifrável, ouro sujo de sombras.

Não pelo brilho — já apagado e triste.

Mas porque, através deles, aprendi a enxergar a vida como quem olha o mundo pela fenda de um abismo.

Tua presença foi faca e chama: acendeu esperanças e queimou meus abrigos.

Suas palavras diziam liberdade, mas teus gestos arrancavam os tijolos que eu levantei para sobreviver.

Procurei respostas e encontrei só mais labirintos.

A cada olhar, mais portas fechadas.

A cada silêncio, mais perguntas sem rosto.

Viver através das tuas janelas âmbar

é viver condenada ao fogo e ao frio.

É ser empurrada para a beira, e ainda assim desejar cair.

Se me perguntam qual alma escolho,

respondo: nenhuma.

A primeira morreu, a segunda apodrece.

O que resta é esse corpo, esse reflexo de areia movediça que se deixa devorar.

E, no fundo, talvez eu nunca tenha amado você —apenas amei o que teus olhos fizeram de mim: um vazio que finalmente aprendeu a ter forma.

“Respirar dói, mas eu ainda escrevo“


 Tá…sabe quando parece que tudo tá pesando demais e você nem entende direito o porquê? Tipo, você tenta seguir o dia, conversa, ri um pouco, faz o que precisa fazer… mas no fundo, tem algo apertando o peito, como se algo tivesse quebrado por dentro e você nem soubesse quando foi. Às vezes eu deito e fico só olhando pro teto, sentindo o silêncio gritar. Dá uma vontade de chorar, mas nem sempre sai. E quando sai, parece que as lágrimas não aliviam, só cansam mais.

É estranho, porque eu tento mostrar que tá tudo bem, mas não tá. Fico fingindo que nada me afeta, mas, no fundo, parece que cada coisinha acumula, vai me corroendo, sabe? É tipo um vazio que chega de mansinho, e quando vejo, já tá tomando conta. Aí eu fico ali, pensando… quando foi que tudo começou a desandar? Por que parece que nada mais tem graça?

Não é drama, é só cansaço. É só vontade de respirar sem esse peso no peito. Eu só queria entender o que aconteceu comigo — quando é que eu comecei a me perder de mim mesmo… mas é difícil colocar em palavras, sabe? Parece que quanto mais eu tento explicar, mais confuso fica. Tipo, tem dias que eu tô bem, sorrindo, falando com todo mundo, e do nada vem aquele nó na garganta, aquela sensação de que tudo vai desabar outra vez. E eu fico ali, disfarçando, rindo de piada sem graça, tentando convencer os outros — e a mim mesmo — de que tá tudo sob controle.

Mas não tá. Eu sinto isso o tempo todo, um peso invisível, uma exaustão que não tem nome. É como se eu estivesse lutando contra algo que não sei nem o que é. E o pior é que ninguém percebe. As pessoas acham que é só fase, que é drama, que vai passar. Mas elas não veem o tanto de esforço que é só levantar da cama e fingir normalidade.

Tem hora que eu só queria alguém pra ouvir, sem tentar consertar nada, sem me dizer pra “pensar positivo”. Só ouvir, sabe? Porque às vezes eu nem quero solução, eu só não quero sentir que tô sozinho nisso. Eu só quero poder falar tudo o que tá preso aqui dentro sem medo de parecer fraco.

E, no fundo, o que mais machuca é isso: eu me acostumei a guardar. A segurar as lágrimas até dormir, a engolir o que eu sinto pra não incomodar. E talvez por isso tudo doa tanto — porque eu tô sempre tentando ser forte, mas nem sei mais pra quê. …me forçando a dormir pra fugir dessa realidade, desse escuro que vai tomando conta de tudo dentro de mim. Eu fecho os olhos tentando esquecer, tentando apagar o que sinto, mas é como se esse vazio me acompanhasse até nos sonhos. Me sinto fora de lugar, como se não fizesse parte de nada, como se tudo o que eu tento construir desmoronasse antes mesmo de começar.

Eu lutei tanto pra sair desse lugar — desse buraco que parece me puxar sempre pra baixo — e olha eu aqui outra vez. Sozinha. Sempre sozinha. Até quem eu confio parece cansado de me ouvir. Quando tento desabafar, sinto que incomodo. Fico repetindo as mesmas coisas, perguntando: “eu já falei isso, né?”. E no fim, fico em silêncio, porque percebo que ninguém quer escutar.

É triste perceber que, no fundo, eu não tenho ninguém comigo de verdade. Eu sirvo pra ser o ouvido das dores dos outros, pra acolher, pra escutar. Mas quando é sobre mim, sobre o que tá me matando por dentro, parece que ninguém quer saber. As coisas boas, ninguém compartilha comigo. As ruins, essas sim, sempre chegam até mim, como se fosse o único tipo de coisa que eu merecesse ouvir.

E aí eu me pergunto: será que tá tão na cara assim? Será que eu só sirvo pra isso, pra carregar o peso dos outros e continuar fingindo que tá tudo bem? Às vezes parece que a vida tá gritando ao meu redor, mas ninguém percebe o quanto eu tô gritando por dentro também. Eu só queria, por um segundo, não precisar fugir do mundo pra ter um pouco de paz dentro de mim…eu tô frustrada comigo mesma, sabe? Dói pra caramba admitir isso. Eu tento ser forte, tento manter tudo em pé, mas parece que nada nunca é suficiente. Eu queria ter sido ouvida, só isso — ouvida de verdade, sem ser interrompida, sem alguém mudar de assunto, sem aquele olhar de impaciência. Mas não fui. E isso dói pra krl. Dói num lugar que nem sei explicar direito.

E é por isso que eu tô escrevendo. Porque se eu não colocar pra fora, acho que explodo. Escrevo pra ver se algo dentro de mim sossega, se essa pressão no peito diminui, se esse nó na garganta desata. Eu escrevo pra ver se alivia, se para de me esmagar, de me sufocar.

É foda sentir que ninguém entende. Que mesmo quando eu tento falar, as palavras saem tortas, pequenas demais pra traduzir o tamanho da dor. E aí eu volto pra mim, pro silêncio, pra essa folha, pra essa tela — tentando transformar o que me dói em palavras, pra ver se, pelo menos assim, eu consigo respirar um pouco…então é isso — se eu te mandei isso, não precisa responder, não precisa dizer nada. Só lê. Lê e entende. Tenha consciência de que eu tentei falar, tentei abrir o peito, tentei mostrar o que tava aqui dentro antes que tudo me engolisse de vez.

Não quero conselho, nem julgamento. Só quero que você saiba que eu cheguei no meu limite, que cada palavra daqui veio de um lugar cansado, doído, mas verdadeiro. Eu só precisava ser ouvida — uma vez, pelo menos.
Então, se por um segundo você sentir o que eu tô sentindo agora, já basta. Porque o que eu mais queria era isso: ser entendida sem precisar me explicar.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

AREIA MOVEDIÇA



Sou areia movediça —

cada passo meu afunda um pouco mais,

e o chão que me segurava já não tem pressa em salvar.

A pele raspa no silêncio dos grãos,

e eu vou cedendo — devagar, sem alarde —

até que o peso vira costume e o susto, memória.

Quero que tudo acabe como quem fecha um livro:

sem epílogo prolongado, sem visitas à cena do crime.

Que a página vibre só o tempo do último ponto,

que o resto se dissolva em pó e vento.

Não quero fogo nem heróis; só um fim simples,

uma linha final que me permita finalmente silenciar.

Me misturo ao lugar que me consome,

e meus dedos já não encontram bordas.

Peço por um término honesto,

por um fim que não me force a fingir que não afundo.

Deixa que a terra me tome inteira —

sem espetáculo, sem plateia, só o abraço frio do último instante.

Sou areia. Sou quedas repetidas.

E, por ora, só desejo que algo termine.

Que o afundar tenha fim — e não mais recomeço.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

“Oi”

Oi,


Eu não sei nem por onde começar, e talvez eu nem precise de uma resposta. Só quero que você leia. De verdade. Porque eu tô cansada de gritar pra dentro, de tentar organizar o que sinto e nunca conseguir.

Cansei de fingir que tá tudo bem quando, por dentro, tudo tá desmoronando. Há dias que viver parece uma sequência de tarefas sem sentido, e eu tô aqui, sozinha, carregando o mundo nas costas como se fosse obrigação minha — mas não é. Não é fácil, não é justo, e eu tô exausta de sorrir pra disfarçar o quanto tudo tem doído.

Eu aprendi a romantizar minha própria solidão. Chamei de força, de autocuidado, de independência. Mas tem dias que isso pesa tanto que parece prisão. Queria um colo, uma presença, alguém que dissesse “eu tô aqui” e realmente estivesse. Sem conselhos, sem pressa, sem comparação. Só… presença.

A cabeça não para. É um barulho constante de culpa, medo e exaustão. Eu acordo cansada e vou dormir pior. E cada vez que eu finjo estar bem, eu gasto o restinho de energia que ainda me sobrou. A verdade é que eu tô quebrada, e admito isso sem vergonha — porque esconder já não dá mais.

Não é sobre amor romântico. É sobre o cansaço de tentar ser tudo pra todo mundo, e mesmo assim sentir que ninguém me enxerga de verdade. Eu apareço, mas já não sei se existo inteira. Tô cansada de atuar, de fingir normalidade pra não preocupar ninguém. E o pior é saber que, mesmo com tanto esforço, eu ainda me sinto sozinha.

Talvez eu tenha errado em insistir em certas coisas, em certas pessoas. Talvez eu tenha te cansado também, e se isso aconteceu, eu sinto muito. Eu só não sabia mais pra onde correr, e você era o lugar onde eu ainda acreditava que existia algum tipo de abrigo.

Se você leu até aqui, não é por pena que eu escrevo. É só um pedido — discreto, talvez desesperado — pra que você me veja. Se não puder me segurar, tudo bem. Mas, por favor, não me julgue por estar desmoronando.

E se ainda existir um pedacinho seu que se importa, eu só quero que ele saiba que eu ainda tô tentando. Mesmo cansada, mesmo em cacos, eu tô tentando continuar.


Com carinho,

De alguém que vai continua em silêncio.

“Cartas que eu nunca enviei”

1. O peso do silêncio Há dias em que o corpo anda, mas a alma fica. Dias em que o riso vem automático, só pra cumprir o papel social de esta...