domingo, 30 de junho de 2024

 

Nas sendas do deserto

Somos pequenos grãos, perdidos na imensidão das dunas. Poeira leve, que ao vento dança e canta sua canção. Se cruzas meu caminho apressado, eu te ferirei. Cegarei teus olhos por um breve momento, um incômodo, talvez, mas suficiente para deixar uma marca.

Dizer para não alcançar os sonhos soa insano, mas há razão em preparar-se antes de correr ao deserto. Nesse vasto vazio, onde a solidão é companhia constante, pode-se perder em tempestades ou ser seduzido por miragens, ilusões passageiras que oferecem consolo efêmero.

Desviar-se do propósito, optando pelo prazer momentâneo, é deixar o objetivo escapar. É sentir o gosto amargo da derrota, ver o pódio inalcançável, sabendo que a escolha foi tua, a dor autoinfligida. E nessa dor, encontrarás a verdade: estamos aqui porque queremos, porque a busca é nossa essência, e cada ferida é um lembrete de que ainda estamos vivos, lutando contra a vastidão implacável do deserto.

 "Sobre a Tirania do Tempo"



Desejo traçar letras sem temer o amanhã,

Mas juízes invisíveis espreitam em cada esquina.

O sábio de outrora cedeu seu trono a um tolo,

Que na periferia, ao colo materno, provou ser um erudito.


Não nos detenhamos em perdas passadas,

Elas não são o cerne do meu ser.

Desprezo os narcisos em seu reflexo vão,

Com a sombra da morte a espreitar meus dias efêmeros.


Por tempos ocultei um gigante por trás de um arbusto,

Ou, quem sabe,

Um sentimento velado por ira, tormento e mágoa.

O medo se entranha, sussurra no silêncio e nas entrelinhas.


Ainda busco o propósito da existência,

Se é para rir, chorar ou permanecer desamparado.

A vida, aos poucos, revela que entre tantas crueldades,

O amor reside nos menores gestos.


Se o espaço se esgotar, não buscarei consolo, mas novos mundos.

Rirei, vagando por um cosmos de cometas.

Testemunharei universos em seu dilema cósmico,

E estrelas nascendo, com fulgor que espelha teu olhar.


Tuas palavras me envolvem como o calor do núcleo planetário.

Talvez seja isso, és um astro a brilhar a léguas de poesia.

Cada verso constrói uma ponte para te alcançar,

Cada um narra como hei de te encantar, com a graça de um pássaro ao te encontrar.


Mas não me vejas como um sonhador perdido em ilusões.

Conheço a aspereza da realidade, sei que nem tudo é esplendor.

Conheço teus medos, tuas falhas e tuas dores.

Sei que não és perfeita, mas para mim, és a perfeição.

quinta-feira, 27 de junho de 2024

 "Alvorecer da Alma"

 

No limiar entre ontem e amanhã,
Eu, mulher de passado e de sonhos,
Carrego nos ombros a sombra da memória,
E no peito, a esperança de um novo alvorecer.

O passado, um espectro que me assombra,
Com risos e lágrimas, promessas desfeitas,
Nas noites solitárias, ele sussurra,
Segredos de uma vida que já não me pertence.

O futuro, um véu que encobre o desconhecido,
Um labirinto de caminhos não trilhados,
O mistério que me atrai e me apavora,
Onde se esconde o destino que tanto anseio.

No presente, encontro a minha dádiva,
O instante em que respiro e me pertenço,
Entre o que fui e o que serei, sou agora,
A mulher que se refaz e se reinventa.

Sou feita de luz e de sombra,
De sorrisos e lágrimas, de força e fragilidade,
E nessa dualidade, me reconheço,
A cada dia, um recomeço, uma nova verdade.
MEU.

Uma visão sobre o Barroco

 

A respeito do Barroco, afirma Ernesto Sena em artigo sugerido como leitura teórica:

 

Assim, o discurso sacro deixaria de ter esse predicativo caso se autonomizasse O uso de metáforas e desdobramentos de metáforas, a atribuição de conceitos, as analogias, assim como as perguntas e respostas, eram características da maioria dos discursos oratórios (SENA, 2023:14).

 

Releia o Sermão de Santo Antônio, de Padre Antonio Vieira, texto literário estudado nesta unidade. Considerando as duas obras supracitadas, elabore um texto dissertativo de, no mínimo, 30 linhas sobre o discurso sacro no referido Sermão de Vieira, respondendo à questão:

 

-Por que Vieira é considerado um escritor barroco?

 

O Barroco foi um movimento artístico e cultural que se desenvolveu na Europa entre os séculos XVI e XVIII, predominando principalmente nas artes visuais, na arquitetura e na literatura. Esse período foi marcado por uma profunda influência da Igreja Católica, que buscava reafirmar sua autoridade após a expansão do Protestantismo. Esteticamente, o Barroco se caracterizava por uma linguagem extravagante, ornamental e carregada de simbolismo religioso. Nas artes plásticas, observa-se o uso de técnicas como o trompe-l'oeil (ilusão de ótica), a perspectiva acentuada e as formas dinâmicas e assimétricas. Já na arquitetura, destacam-se as fachadas suntuosas, as cúpulas imponentes e a decoração exuberante.

Na literatura, os autores barrocos também exploravam uma linguagem altamente elaborada, com abundância de metáforas, paradoxos, antíteses e jogos de palavras. Essa tendência à embelezamento e ao virtuosismo verbal tinha como objetivo não apenas impressionar o público, mas também transmitir uma visão de mundo marcada pelo conflito entre as paixões humanas e a aspiração ao divino. Nesse contexto, a obra do Padre Antônio Vieira, especialmente o seu Sermão de Santo Antônio aos Peixes, é reconhecida como um exemplo paradigmático do Barroco literário português. Vejamos, então, como as características dessa corrente estética se manifestam nesse importante texto.

 

Padre Antônio Vieira é considerado um escritor barroco devido às características marcantes em seu     Sermão de Santo Antônio aos Peixes    que refletem os princípios estéticos do Barroco. Conforme apontado por Ernesto Sena, o discurso sacro barroco se caracteriza pelo "uso de metáforas e desdobramentos de metáforas, a atribuição de conceitos, as analogias, assim como as perguntas e respostas" (SENA, 2023:14). Essas mesmas características podem ser claramente identificadas no sermão de Vieira.

Desde o início do texto, Vieira emprega uma linguagem altamente figurativa e metafórica, comparando Santo Antônio a diferentes elementos da natureza, como um "cedro do Líbano", um "cipreste de Sião" e uma "palma de Cades" (VIEIRA, 2023:23). Essa profusão de imagens e analogias é uma marca fundamental do estilo barroco, que buscava impressionar e persuadir o público através de uma linguagem rebuscada e ornamental.

Além disso, Vieira constantemente lança mão de perguntas retóricas e diálogos imaginários, criando uma dinâmica interativa e questionadora em seu sermão. Passagens como "Quem é este Antônio?" e "Que quer dizer este nome de Antônio?" (VIEIRA, 2023:24) são exemplos dessa característica barroca de interpelação do leitor/ouvinte.

Outro aspecto barroco evidente no texto é a atribuição de conceitos complexos e abstratos a Santo Antônio, como quando Vieira o denomina "príncipe da Igreja", "sol da Religião" e "tesoureiro do céu" (VIEIRA, 2023:26-27). Essa tendência de elevar e enaltecer o sagrado por meio de um vocabulário rebuscado e erudito é outra marca significativa do Barroco.

Portanto, a profusão de metáforas, analogias, perguntas retóricas e conceitos elaborados presentes no   Sermão de Santo Antônio aos Peixes     de Vieira demonstram claramente as características do estilo barroco. Através de sua habilidade em incorporar essas características em seu discurso sacro, Vieira se consagra como um dos principais representantes dessa corrente literária em Portugal. Seu trabalho não apenas exemplifica a estética barroca, mas também ilumina a complexa interação entre fé, moralidade e crítica social, refletindo o espírito de seu tempo de forma magistral.

 

"Se a Igreja quer que preguemos de Santo Antônio sobre o Evangelho, dê-nos outro. Vos estis sal terrae: É muito bom texto para os outros santos doutores; mas para Santo Antônio vem-lhe muito curto. Os outros santos doutores da Igreja foram sal da terra; Santo Antônio foi sal da terra e foi sal do mar. Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje. Mas há muitos dias que tenho metido no pensamento que, nas festas dos santos, é melhor pregar como eles, que pregar deles. Quanto mais que o são da minha doutrina, qualquer que ele seja tem tido nesta terra uma fortuna tão parecida à de Santo Antônio em Arimino, que é força segui-la em tudo. Muitas vezes vos tenho pregado nesta igreja, e noutras, de manhã e de tarde, de dia e de noite, sempre com doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira, e a que mais necessária e importante é a esta terra para emenda e reforma dos vícios que a corrompem. O fruto que tenho colhido desta doutrina, e se a terra tem tomado o sal, ou se tem tomado dele, vós o sabeis e eu por vós o sinto" (CAPÍTULO I, pág. 3)

 

Neste trecho do Sermão de Santo Antônio aos Peixes de Padre Antônio Vieira, podemos identificar diversas características típicas do estilo barroco, que fundamentam a consagração de Vieira como um dos expoentes dessa corrente literária em Portugal.

Em primeiro lugar, destaca-se a abordagem metafórica e simbólica empregada por Vieira ao se referir a Santo Antônio. Ao afirmar que "Santo Antônio foi sal da terra e foi sal do mar", o pregador recorre a uma metáfora bíblica ("Vós sois o sal da terra") para elevar a figura do santo, atribuindo-lhe características de universalidade e abrangência. Esse uso virtuosístico da linguagem, com a exploração de imagens elaboradas e simbólicas, é uma marca fundamental do Barroco, que buscava impressionar e persuadir o público por meio de uma retórica rebuscada e ornamental.

Outro aspecto barroco evidente no trecho é a estrutura retórica empregada por Vieira. Podemos observar a presença de perguntas retóricas ("Se a Igreja quer que preguemos de Santo Antônio sobre o Evangelho, dê-nos outro?"), bem como a alternância entre afirmações e questionamentos, criando um discurso dinâmico e envolvente. Além disso, Vieira recorre a contrastes e antíteses, como ao destacar que "os outros santos doutores da Igreja foram sal da terra; Santo Antônio foi sal da terra e foi sal do mar". Essa construção paradoxal é típica do Barroco e visa evidenciar a singularidade e a superioridade de Santo Antônio em relação aos demais santos.

Por fim, a menção à "doutrina muito clara, muito sólida, muito verdadeira" e ao "fruto" que Vieira tem "colhido desta doutrina" revela uma preocupação com a eficácia persuasiva do discurso, outra característica fundamental do Barroco, que buscava não apenas impressionar, mas também convencer o público. Portanto, neste trecho do Sermão de Santo Antônio aos Peixes, Vieira mobiliza diversos recursos estilísticos e retóricos típicos do Barroco, como o uso de metáforas elaboradas, a estrutura dialogada, os contrastes e paradoxos, e a ênfase na dimensão persuasiva do discurso. Tais aspectos justificam plenamente a consagração de Padre Antônio Vieira como um dos principais representantes do Barroco na literatura portuguesa.

Uma intertextualidade interessante a ser explorada seria comparar o Sermão de Santo Antônio aos Peixes de Padre Antônio Vieira com as Cartas da Freira Mariana Alcoforado, outro importante texto barroco da literatura portuguesa. As Cartas da Freira Alcoforado são um conjunto de missivas apaixonadas escritas por uma freira do século XVII, retratando sua relação amorosa com um oficial francês. Assim como no sermão de Vieira, a linguagem empregada nessas cartas é altamente elaborada, repleta de metáforas, jogos de palavras e recursos retóricos típicos do Barroco.

Um ponto de convergência interessante entre as obras seria a maneira como ambas lidam com a temática do amor e da espiritualidade. Enquanto Vieira aborda essas questões no contexto da pregação religiosa, Mariana Alcoforado as explora a partir da perspectiva da angústia e do sofrimento amoroso de uma freira. No entanto, em ambos os casos, observa-se uma forte linguagem simbólica e a presença de uma visão paradoxal da condição humana, tão cara ao Barroco.

Outra possibilidade de análise seria comparar os recursos estilísticos empregados pelos dois autores. Tanto Vieira quanto a Freira Alcoforado recorrem a figuras de linguagem elaboradas, como metáforas, antíteses e paradoxos, a fim de transmitir a complexidade de suas experiências e promover o envolvimento emocional do leitor. Além disso, tanto no sermão quanto nas cartas, é possível identificar uma estrutura retórica que se vale de perguntas retóricas, digressões e contrastes, criando um discurso denso e persuasivo, características marcantes do Barroco.

Padre Antônio Vieira é considerado um escritor barroco porque ele incorpora as características centrais dessa estética em seus textos, como a abundância de metáforas, perguntas retóricas, e a complexidade conceitual. Seu Sermão de Santo Antônio aos Peixes exemplifica o uso virtuoso da linguagem barroca, a estrutura retórica envolvente, e a riqueza simbólica que são marcas registradas do Barroco. Ao explorar a intertextualidade com as Cartas da Freira Mariana Alcoforado, fica ainda mais evidente como esses recursos estilísticos e temáticos são compartilhados e distintivos dessa corrente literária. Vieira não apenas impressiona, mas também convence e cativa seu público, consolidando sua posição como um dos principais representantes do Barroco na literatura portuguesa.

 


Referências


 

SENA, Ernesto. O “Barroco” e os sermões vieirianos: algumas considerações sobre anacronismos e o fazer história. Disponível em O “Barroco” e os sermões vieirianos: algumas considerações sobre anacronismos e o fazer história | Em Tempo de Histórias (unb.br). Acesso em 22/05/24.

 

VIEIRA, A. Sermão de Santo Antônio (aos peixes). Disponível em Antônio Vieira (Domínio Público) — Páginas Pessoais - UTFPR. Acesso em 20/05/24.

 


Intimidade 

No fundo, o lado mais difícil de um relacionamento é a intimidade. É quando as máscaras caem, os segredos são revelados e as fraquezas expostas. Nessa vulnerabilidade, nesse encontro sem defesas, deparamos-nos com o verdadeiro desafio: amar e ser amado pelo que realmente somos, não pelo que mostramos ser.

É fácil se apaixonar pelas aparências, pelas primeiras impressões e pelas versões cuidadosamente editadas de nós mesmos. Mas a verdadeira intimidade vai além das superficialidades. Ela desbrava nossas sombras, desvenda nossas cicatrizes e toca naqueles pontos que até nós mesmos evitamos.

É nessa profundidade que o amor verdadeiro se constrói. Quando aceitamos o outro com todas as suas imperfeições e somos aceitos da mesma forma, sem reservas. Esse é o caminho mais belo e mais árduo do amor, onde cada olhar e cada gesto se tornam um ato de coragem e sinceridade.

Nas entrelinhas dos dias, onde a rotina escreve sua prosa sem pretensão, a intimidade se revela como um livro aberto. Cada página é um capítulo de vulnerabilidades partilhadas, onde os medos sussurram suas histórias e os sonhos desenham esperanças tímidas. Nesse enredo sem máscaras, o amor se desnuda, despido de artifícios, e nos convida a sermos quem realmente somos, sem roteiros pré-definidos.

A verdadeira beleza de um relacionamento reside nesse encontro corajoso com o outro, onde as imperfeições não são ocultadas, mas celebradas. Cada cicatriz é um verso, cada falha uma rima imperfeita que, no entanto, compõe a melodia única do amor. No abraço silencioso da intimidade, encontramos a força para sermos genuínos, para mostrarmos nossas sombras sem medo do julgamento.

É no toque sutil de mãos trêmulas, no olhar que desarma e na palavra que acolhe, que o amor revela sua essência mais pura. Não há espaço para máscaras ou disfarces, apenas a verdade nua e crua de quem somos. E nesse encontro, descobrimos a beleza da aceitação mútua, do amor que não exige perfeição, mas abraça a totalidade do ser.

Cada momento compartilhado é um ato de fé, uma entrega sem garantias, onde a intimidade nos desafia a sermos corajosos e sinceros. E é nessa entrega que o amor encontra seu terreno mais fértil, florescendo em meio às imperfeições e criando raízes profundas que sustentam a relação.

Assim, seguimos, desbravando a profundidade de nossos corações, navegando pelas águas turvas da vulnerabilidade, mas sempre com a certeza de que, na intimidade, reside o verdadeiro tesouro do amor.

sábado, 22 de junho de 2024



"Versos de Um Garoto Aflito"


 Num canto escuro, um garoto solitário,

Vislumbra o mundo com olhos cansados,

Em sua mente, uma visão conflitante,

Entre a alegria e o desejo de ser apagado.


Ele sonha com risos e felicidade,

Mas também com o silêncio da eternidade,

Um coração partido, dividido ao meio,

Entre o desejo de viver e de partir sem receio.


Nos campos da mente, ele vagueia perdido,

Em busca de um lugar onde se sinta acolhido,

Mas a sombra da tristeza o envolve em dor,

E o garoto com seu pudor.


Oh, garoto aflito, com sonhos tão diversos,

Que a vida e a morte dançam em teus versos,

Encontre a paz dentro de teu ser ferido,

E que a felicidade seja teu guia, teu sentido.


sábado, 15 de junho de 2024





DETALHES

 Meu maior defeito é gostar de detalhes,

Por detalhes eu fico, por detalhes eu vou.
É no sussurro, no toque suave,
Que encontro a chama que me incendeia.

Cada olhar profundo, cada gesto sutil,
São fragmentos que compõem meu desejo.
É na curva do teu sorriso, na doçura do teu aroma,
Que me perco e me reencontro.

Nos detalhes do teu corpo, na textura da tua pele,
Reside a minha perdição.
É na intensidade dos teus beijos,
Que minha alma encontra redenção.

Por detalhes, eu vivo,
Por detalhes, eu morro,
É na essência de cada pequeno momento,
Que meu amor por ti se eterniza.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

A Dança do Destino

 


A Dança do Destino

Thamires Souza

 

A vida, essa dançarina imprevisível, nos leva em um turbilhão de passos incertos. Às vezes, tropeçamos, caímos, e a poeira da frustração nos cobre. Olhamos para trás e vemos um rastro de escolhas erradas, de oportunidades perdidas, de sonhos desfeitos. É fácil, nesse momento, sentir que a vida nos conduz para um destino cruel, traçado por mãos invisíveis que nos manipulam.

Mas a verdade é que, mesmo em meio aos escombros daquilo que deu errado, existe uma chama acesa dentro de nós: a vontade de escolher, de definir nosso próprio caminho. É a força que nos impulsiona a levantar, a sacudir a poeira e olhar para frente. É a decisão de não sermos reféns do passado, de não nos deixarmos moldar pelas cicatrizes que carregamos.

Cada um de nós tem a capacidade de escolher o ritmo da nossa dança, de definir os passos que queremos dar. A vida pode nos apresentar desafios, nos jogar obstáculos, mas cabe a nós escolher como reagir, como superar.

Eu, por exemplo, carrego as marcas de uma jornada tortuosa. Escolhas equivocadas, momentos de fraqueza, erros que me deixaram com o coração em pedaços. Mas, em meio à dor, descobri um caminho diferente, um caminho que me levava de volta para mim mesmo.

Abracei a bondade, mesmo que ela parecesse um fardo pesado demais para carregar. Abracei a força que me impulsionava a seguir em frente, mesmo que ela estivesse em frangalhos. Escolhi, com todas as minhas forças, ser o maestro da minha própria história, mesmo que a partitura estivesse rabiscada e cheia de notas desafinadas.

A vida não nos entrega um manual de instruções, não nos diz o que fazer ou como ser. Mas nos dá a liberdade de escolher. De escolher a compaixão em vez do ódio, a esperança em vez do desespero, a luz em vez da escuridão.

Somos seres em constante transformação, em constante movimento. E, no palco da vida, cabe a cada um de nós escolher o papel que queremos interpretar. Podemos escolher ser vítimas das circunstâncias ou protagonistas da nossa própria história. Podemos escolher ser definidos pelas nossas feridas ou sermos moldados pela nossa capacidade de superação.

A escolha é nossa. E a dança do destino, meu amigo, só tem um ritmo: o que decidimos dar a ela.

 


Sinfonia do desejo

 

O gosto delicioso e embriagante do teu corpo é o mais doce que conheço,

Tão doce e afetuoso quanto o toque ardente de teus lábios sobre a minha pele. É algo que me atrai e me enlouquece de desejo,

És a melhor recompensa que já provei.

 

Tu és como uma melodia hipnótica que me eleva ao êxtase,

Preenchendo meu corpo todo de anseio e paixão,

Inspirando meu espírito a gemer em prazer,

E me fazendo sentir viva, pulsante e completa.

 

Tu és meu refúgio seguro, meu lar, minha morada de delícias,

Me fazes sentir que tudo vai dar certo, que nada mais importa. És a melhor companhia, a mais cativante,

O sabor mais delicioso e irresistível que já conheci.

 

Teu corpo é a minha morada, tua pele é meu néctar,

Tuas carícias são a minha fonte de êxtase. Quero me perder em ti, me fundir contigo,

Deixar-me levar pela correnteza de nosso desejo.

By Thamires Santos Souza

 

segunda-feira, 3 de junho de 2024




ESCOLHA E DESTINO

De todas as coisas que deram errado na minha vida, 

Eu dei certo!

De todos os motivos que eu tive para ser uma péssima pessoa, 

Eu escolhi a bondade!

Minha força não foi uma escolha voluntária.

Sou um ser humano quebrado por dentro.

Mas meu coração leva bons sentimentos e intenções.

A minha história me ensinou que não controlamos nosso passado,

Mas definimos nosso destino.

Nunca é sobre o que nos fizeram, 

mas sobre quem a gente decide ser apesar disso.

“Trovadorismo” análise feita para matéria de literatura portuguesa, lecionada pela professora Zilda Freitas, no quarto semestre de Letras, como avaliação da primeira unidade.

 

Uma visão sobre o trovadorismo e analise de cantiga

 

 O trovadorismo, movimento literário que floresceu na Europa medieval na Idade Média que reverbera a riqueza cultural e artística desse período. Portugal também foi palco de intensa atividade literária e cultural suas cantigas líricas e satíricas permeadas de sentimentos amorosos e corteses, revelavam a sensibilidade e a criatividade dos trovadores. Em meio ao contexto feudal e teocêntrico, as cantigas trovadorescas em terras portuguesas refletiam não apenas os valores cristões predominantes, mais também a influência árabe, na Península Ibérica. Assim a produção literária trovadoresca em Portugal se destacou pela fusão de diferentes influencias culturais que perdurou ao longo dos séculos.  

A perspectiva de Cid Seixas sobre a poesia trovadoresca galego-portuguesa oferece uma visão crítica desta tradição literária, considerando o seu significado histórico e cultural.  Seixas conheceu de perto as complexidades e nuances das cantigas de amor, de amigos, de escárnio e de maldizer, buscando compreender as variações e influências presentes nessa produção literária.

“As cantigas de amigo, que constituem o mais rico material poético da nossa tradição, são de origem popular. E esta forma galega de um homem compor uma cantiga para expressar o sentimento de uma mulher, como se fosse a própria mulher quem fala, é uma correspondente hispânica de um tipo de composição trazida pelos árabes”. (Seixas,1999 p. 28)

Uma das formas de Seixas oferecer uma visão crítica da poesia trovadoresca foi através da análise das diferentes formas de cantigas. Os seus trabalhos demonstram uma compreensão dos contextos sociais e culturais em que estas formas foram criadas e como foram usadas para expressar diferentes emoções e experiências. Por exemplo, a sua análise das cantigas de escárnio e de maldizer, de carácter crítico, evidencia o uso sofisticado da ironia e da sátira para comentar questões contemporâneas. O trabalho de Seixas oferece uma compreensão crítica do papel da poesia trovadoresca na formação da paisagem cultural e literária de Portugal medieval e da Galiza. Ao examinar os elementos formais e temáticos presentes nesta tradição poética, revela a intrincada relação entre música e poesia e a forma como estas formas se influenciaram mutuamente ao longo do tempo. Demonstram também como a poesia trovadoresca contribuiu para o desenvolvimento da língua galego-portuguesa, que tem tido uma influência duradoura nos descendentes linguísticos desta região. Através da análise das diferentes formas de cantigas e do seu significado cultural, o autor proporciona uma compreensão mais profunda das complexidades e nuances desta tradição poética, demonstrando como ela continua a informar e a inspirar tanto os poetas como os académicos contemporâneos.

Já Carlos Castilho Pais foi de fato, um indivíduo multifacetado e talentoso. Sua contribuição para a literatura e a cultura é notável. A “Arte Poética” é uma obra que merece atenção, pois mergulha nas profundezas da criação artística e da poesia.

“Quem tente a procura do essencial no escrever do poema responde a duas questões prementes. São elas: a natureza específica do discurso a que chamamos 'poesia' e o modo pelo qual esse discurso é encarado na atualidade.” (Castilho,2021, p.69)

Através de reflexões cuidadosas, Castilho explora os elementos essenciais da poesia, como a precisão das observações e o alcance das propostas. A variedade de opções interpretativas é uma característica fascinante da poesia, e o autor nos convida a explorar esse universo.

A concisão do estilo de escrita de Castilho permite que suas análises penetrem no cerne da arte poética. Ao ler “Arte Poética”, somos convidados a refletir sobre a linguagem, as imagens e as emoções que permeiam a poesia. É uma jornada enriquecedora para todos aqueles que apreciam a beleza das palavras e a profundidade da expressão literária. “Arte Poética” é uma obra que nos inspira a olhar além das palavras e a descobrir a magia que reside na criação poética. É um convite para explorar o mundo interior e a conexão entre a linguagem e a alma humana.

Partindo para análise da cantiga “João Airas de Santiago”:

Trata-se de uma cantiga de amigo de João Airas de Santiago, trovador galego-português. O poema exprime a lealdade e o amor do eu-lírico para com o seu amigo, numa linguagem e estrutura simples. Tem uma métrica troque e alternada, e um esquema de rimas AAABBB. O refrão "dizede-lhi que mente" é utilizado para realçar o tema da lealdade. O poema exemplifica a tradição trovadoresca de utilizar a linguagem e as experiências quotidianas para transmitir emoções fortes. Em comparação a cantiga, “Ondas do mar de Vigo,”. A linguagem é simples, direta e emocional, com o uso de exclamações que enfatizam a expressão de sentimentos. A repetição da pergunta "e ai, Deus, se verrá cedo?" no final de cada estrofe cria uma sensação de ansiedade e urgência. Ambas as cantigas do texto são exemplos da poesia trovadoresca galego-portuguesa e demonstram a utilização da linguagem quotidiana para transmitir emoções fortes. No entanto, existem diferenças entre as duas. A cantiga de amigo de João Airas de Santiago exprime lealdade e amor para com um amigo numa linguagem direta, enquanto "Ondas do mar de Vigo" adopta uma abordagem metafórica, utilizando o imaginário das ondas do mar para exprimir emoções de amor e saudade. Embora ambos os poemas utilizem refrãos para dar ênfase, o esquema de rimas da cantiga de Santiago é AAABBB, enquanto a cantiga anónima utiliza uma estrutura simples e exclamações repetitivas para criar um impacto emocional. Geralmente, ambos os poemas são exemplos significativos da tradição trovadoresca galego-portuguesa, com abordagens únicas para transmitir emoções através da linguagem e da estrutura.

Cantiga "Amei-vos sempr', amigo, e fiz-vos lealdade" de João Airas de Santiago, o conteúdo, gira em torno de temas como o amor, a devoção, a lealdade e a calúnia. O eu-lírico exprime o seu amor e lealdade inabaláveis para com o amigo, sublinhando a força da sua ligação, apesar de quaisquer dúvidas ou rumores que possam ser espalhados por outros.  Também está confiante na sua própria verdade, implicando que qualquer pessoa que questione o seu amor pelo amigo está a mentir. A utilização do esquema de rimas acrescenta uma qualidade musical ao poema, que é uma caraterística da cantiga de amigos. Em geral, reflete a importância de ligações profundas e significativas entre indivíduos, bem como o poder da confiança, lealdade e honestidade nas relações.

A trova “Amei-vos sempr’, amigo, e fiz-vos lealdade” de João Airas de Santiago pode ser analisada, considerando o contexto histórico e literário em que foi escrita, bem como a estrutura e o estilo da cantiga. O discurso do poema gira em torno de temas como o amor, a lealdade, a devoção e a defesa contra a difamação. O eu-lírico, que é feminina, como é habitual nas trovas, declara o seu amor e lealdade inabaláveis ao amigo, independentemente dos boatos e dúvidas que possam ser espalhados por terceiros.  Afirma também a sua própria honestidade e pureza de intenções, sugerindo que quem questiona a sinceridade dos seus sentimentos está a mentir. Este discurso é caracterizado pelo uso de uma linguagem simples e repetitiva e por um tom direto e emotivo, que são representativos.  O discurso da cantiga enfatiza a importância de ligações profundas e significativas entre indivíduos, bem como o poder da confiança, lealdade e honestidade na promoção e manutenção dessas ligações.

A trovas de Santiago, centra-se nos temas do amor, da lealdade e da veracidade. O poema tem uma qualidade emotiva poderosa, eu-lírico a exprimir o seu amor profundo e inabalável por um amigo e o seu empenho em defender a sua honra contra quaisquer acusações caluniosas. A repetição da frase "dizede-lhi que mente" enfatiza a força da convicção da voz lírica e a sua vontade de defender o seu amigo. Além disso, apresenta uma voz feminina e temas de amor e saudade, aumenta o impacto emocional do poema.  Cantiga de amigo "Amei-vos sempr', amigo, e fiz-vos lealdade" é uma bela e comovente expressão de amor, lealdade e verdade que continua a ter eco junto dos leitores de todas as culturas e épocas.

Em suma, tradição trovadoresca galaico-portuguesa produziu um rico corpus de poesia que celebrou a vida emocional e cultural do período medieval. Através das cantigas de amigos e de outras formas de poesia, trovadores expressaram o seu amor, lealdade e saudade através de uma linguagem e estrutura simples. Estes poemas continuam a ser exemplos significativos de uma tradição literária que ajudou a desenvolver as línguas portuguesa e galega e moldou a identidade cultural da região. Atualmente, podemos apreciar e aprender como estas trovas, que oferecem uma visão única da riqueza emocional do período medieval e do poder duradouro das emoções e experiências humanas.


 


 Referências


 

PAIS, C.C. “Arte poética” IN: Canto português. Lisboa: Ed. Gandaia, 2021 (p. 69-72). O texto será disponibilizado para a turma em formato PDF, em 04/4/24.

 

SEIXAS, Cid. “Introdução” à O TROVADORISMO. Parte I: Crítica e Apuração de Textos. (p.15-21). Disponível em trovadorismo1.pdf (ufba.br). Acesso em 6/3/24. O texto será disponibilizado para a turma em formato PDF, em 04/4/24.

 

sábado, 1 de junho de 2024



"Memorias que persistem"


Não é verdade que tudo passa,

No fundo, há algo que permanece.

Cicatrizes em nossa alma,

Memórias que nunca esquecemos.


Lágrimas derramadas,

Corações partidos e magoados.

Sensações que jamais se apagam,

Em nós, elas ficam guardadas.


Tentamos esquecer o sofrido,

Mas algo nos impede de avançar.

Cada passo tem uma lembrança,

Que não nos deixa esquecer.


Por isso, não se desespere,

Porque o que passou, não volta.

Se temos uma lição a aprender,

Aprenda-a e não se esqueça.

 By Thamires Souza

Escrita feminina (análise)

 Desconstrução de estereótipos na escrita feminina, através de leituras de autoras feministas, até a música “Desconstruindo Amélia” da cantora/ compositora Pitty Leone.

Thamires Santos Souza[1]

 

Introdução

Quando comecei a ler sobre a importância e a relevância da escrita feminina, fiquei impressionada com o quão isso me tocou. Como mulher, sei em primeira mão como pode ser difícil fazer com que a voz seja ouvida e as opiniões valorizadas numa sociedade que muitas vezes reforça estereótipos[2] e limitações de gênero. Mas através da escrita, encontrei uma forma de expressar autenticamente e desafiar as expectativas sociais que foram impostas.

Neste ensaio, vou aprofundar o impacto da escrita feminina na quebra de padrões pré-estabelecidos e permitir que as mulheres encontrem as suas vozes únicas através da expressão literária. Explorarei os clichês que estão frequentemente presentes na escrita feminina e examinarei como as escritoras estão a desafiar e a libertar-se dessas limitações. Acredito que, ao fazê-lo, as escritoras são capazes de abrir a porta a uma maior diversidade na escrita narrativa e na representação das mulheres.

Como exemplo, vamos analisar a música "Desconstruindo Amélia" da cantora e compositora brasileira Pitty Leone, juntamente com as obras literárias discutidas nas aulas ministradas pela Professora Doutora Adriana Abreu e pela doutoranda Pollyana Lima. Através dessas obras, vamos explorar como a quebra de concepções errôneas nas artes pode abrir caminho para uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.

Desconstrução de estereótipos na escrita feminina

Com o uso da escrita, as mulheres têm a oportunidade de desafiar e questionar os estereótipos de gênero[3] que existem na sociedade. Elas podem explorar uma variedade de temas e perspectivas, rompendo com as expectativas tradicionais e oferecendo narrativas mais diversas e autênticas.

A escrita feminina pode abordar questões como identidade, sexualidade, maternidade, relacionamentos e muito mais, de maneiras que desafiam as normas culturais e sociais. Essa forma de expressão literária é uma poderosa ferramenta para combater a desigualdade de gênero e promover a igualdade, permitindo que as mulheres compartilhem suas histórias, experiências e visões de mundo, ao desconstruir padrões na escrita feminina, as autoras podem desafiar a ideia de que as mulheres devem se encaixar em determinados papéis ou comportamentos predefinidos. Elas podem criar personagens femininas complexas e multifacetadas, que não são restritas por concepções errôneas limitantes. Além disso, a escrita feminina pode revelar as diversas vozes e perspectivas das mulheres, contribuindo para uma representação mais justa e inclusiva na literatura e na sociedade como um todo. Deste modo, a desconstrução de estereótipos na escrita feminina é uma forma poderosa de empoderamento e resistência, permitindo que as mulheres se expressem livremente e desafiem as normas de gênero impostas pela sociedade.

                           

A desconstrução de estereótipos culturais e sociais na luta feminista: o papel da literatura e da música

A literatura feminina tem sido um meio de desafiar e desconstruir generalizações culturais há séculos. Autoras habilidosas Bell Hooks, Simone de Beauvoir, Marina Colasanti, Adriana Abreu, Virginia Wolf, criaram personagens femininas complexas e multifacetadas, que desafiam as expectativas do que uma mulher “deveria” ser. Essas representações ampliam o olhar para o que significa ser mulher e colocam em cheque as noções convencionais de gênero. Além disso, essas obras são importantes exemplos de como a escrita pode ser uma ferramenta para a libertação das mulheres, permitindo que as mulheres sejam representadas de forma autêntica e, assim, criarem novos modelos e possibilidades no mundo

Ao longo da história, a produção artística literária e a música foram predominantes nas mãos dos homens, o que resultou em uma falta de representações femininas e em uma falta de vozes femininas na sociedade. Isso se aplicava tanto à literatura quanto à música, onde as mulheres muitas vezes eram invisíveis ou reduzidas a um papel secundário. No entanto, o movimento feminista foi responsável por lutar pela desconstrução de concepções errôneas de gênero e aumentar a presença das mulheres na produção artística.

Autoras como Simone de Beauvoir e Bell Hooks desempenharam um papel fundamental nessa luta. Em "O Segundo Sexo", Beauvoir questionou as noções tradicionais de gênero e argumentou que elas eram baseadas em generalizações culturais e sociais que limitavam a liberdade e a igualdade das mulheres. Embora Simone nunca tenha declarado explicitamente que as suas obras se destinavam a fins feministas, ela é frequentemente associada à filosofia feminista. Os seus escritos exploraram as formas como as mulheres têm sido historicamente oprimidas e as estruturas sociais que contribuíram para a sua subjugação. Defendia que o gênero não era uma caraterística natural, mas sim uma identidade socialmente construída, e que os indivíduos deviam poder definir as suas próprias identidades e papéis na sociedade. Além disso, Simone era uma defensora dos direitos reprodutivos das mulheres e defendia a importância de as mulheres terem controlo sobre os seus próprios corpos.

"Não se nasce mulher, mas torna-se mulher" - Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.

Em "Ensinando a Transgredir", Bell Hooks criticou a educação tradicional e defendeu a importância da interseccionalidade na luta pelo fim da opressão. Ambas defenderam a ideia de que a desconstrução de concepções errôneas de gênero é essencial para alcançar a libertação feminina e a construção de uma sociedade mais igualitária.

"O primeiro passo para a criação de um mundo novo e melhor é desmantelar o sistema cultural e económico em que vivemos e apontar as suas falhas" - Bell Hooks, Teaching to Transgress.

No contexto da música, a presença das mulheres tem crescido cada vez mais, o que tem sido um fator importante para a desconstrução de preconceito de gênero. Pitty Leone é uma figura significativa neste sentido, com sua música "Desconstruindo Amélia", ela desafia os preconceito de gênero e inspira muitas mulheres a fazer o mesmo. Por meio de sua música, Pitty oferece uma nova representação da mulher e uma mensagem poderosa de libertação e igualdade.

A desconstrução de clichês culturais e sociais tem sido um fator crucial para a luta feminista e para alcançar a igualdade de gênero na sociedade. Desde a luta por representações mais autênticas na literatura, ao aumento da presença feminina na música, essa luta tem trazido importantes conquistas para a causa feminina. A música "Desconstruindo Amélia" de Pitty Leone, é um exemplo poderoso de como as mulheres podem lutar contra generalizações culturais e sociais.

Com o avento das próximas décadas e os estudos discursivos nossa sociedade passa por um período de mudanças e isso que podemos observar na canção “Descontruído Amélia”, onde as condições de produção já traz para o texto discursos que aos poucos estão sendo debatidos em nossa sociedade, pois a mulher já não mais aceita os padrões impostos a ela, assim ela vai em busca da liberdade negada.
 

DESCONSTRUINDO AMÉLIA”[4]

Já é tarde, tudo está certo

Cada coisa posta em seu lugar

                                                                                                Filho dorme, ela arruma o uniforme                                                             

Tudo pronto pra quando despertar

O ensejo a fez tão prendada

Ela foi educada pra cuidar e servir

De costume, esquecia-se dela

Sempre a última a sair

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar (Uhu!)

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar (Uhu!)

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o outro

Hoje ela é um também

A despeito de tanto mestrado

Ganha menos que o namorado

E não entende porque

Tem talento de equilibrista

Ela é muita, se você quer saber

Hoje aos 30 é melhor que aos 18

Nem Balzac poderia prever

Depois do lar, do trabalho e dos filhos

Ainda vai pra night ferver

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar (Uhu!)

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar (Uhu!)

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o outro

Hoje ela é um também

Uhu, uhu, uhu

Uhu, uhu, uhu

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar (Uhu!)

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar (Uhu!)

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o outro

Hoje ela é um também

 

No ano de 1970, as Nações Unidas instituíram o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher[5], uma data para celebrar as conquistas dos movimentos feministas e reivindicar igualdade de direitos para as mulheres em todas as esferas da vida. Com os avanços na sociedade, a mulher deixou de se dedicar exclusivamente à família, alcançando autonomia e empoderamento. No entanto com advento das causas feministas a luta das mulheres está apenas começando pois há muito a se fazer para equilibrar a rotina para que nós não sejamos sobrecarregadas.

“Como mulher, não tenho pátria. Como mulher, não quero um país. Como mulher, o meu país é o mundo inteiro" - Virginia Woolf.

A letra da compositora/cantora Pitty são atuais manifestos; a cantora baiana sempre usou a música para questionar normas e provocar o pensamento crítico e reflexões sobre temas como sexíssimo, machismo, depressão e autoaceitação.

Na música “Desconstruindo Amélia”, Pitty procura romper com o estereótipo da Amélia que era “mulher de verdade” de outros tempos, pois está surgindo uma nova mulher do XXI, na letra ela conta a história de uma mulher multitarefas, que mesmo estando sobrecarregada um dia resolve “vira a mesa e assumir o jogo”, lutando pelo protagonismo da própria vida.

Começando pelo título “desconstruindo Amélia” referindo-se a uma desconstrução, ato de rompimento com padrões conservadores estabelecidos, e que é necessário reconstruir a mulher para rompimento dos padrões que são impostos socialmente a mulher.

Já é tarde, tudo está certo

Cada coisa posta em seu lugar

Filho dorme, ela arruma o uniforme

Tudo pronto pra quando despertar

A canção começa por descrever os tradicionais papéis multitarefa[6] das mulheres, como a personagem "Amélia", que está simbolicamente ocupada com as tarefas domésticas. Apesar da hora do dia, continua a ter tarefas a cumprir, assegurando que tudo está bem organizado para o bem-estar do seu filho. A canção critica implicitamente a noção prevalecente de que as tarefas domésticas são da responsabilidade exclusiva das mulheres, ignorando o fardo esmagador que esta expetativa impõe às mulheres. Além disso, as mulheres têm sido frequentemente obrigadas a conciliar as responsabilidades domésticas com a sua vida profissional, perpetuando as desigualdades sistémicas e limitando as oportunidades de atingirem o seu pleno potencial.

O ensejo a fez tão prendada

Ela foi educada pra cuidar e servir

De costume, esquecia-se dela

Sempre a última a sai

As alegações que tentam retira o empoderamento da mulher [7]continua. A autora critica a forma como as mulheres são moldadas para se enquadrarem num papel de cuidadoras domésticas, com a expectativa de que devem primeiro garantir que tudo na casa está organizado e limpo para satisfazer os outros. Isto deixa-lhes pouco tempo para se concentrarem nas suas próprias necessidades, sendo a mulher muitas vezes a última a preparar-se. Isto realça a divisão desequilibrada e sexista do trabalho doméstico, resultando na exploração do trabalho doméstico das mulheres.

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar

 

Neste ponto surgir Amélia moderna, libertando-se do conformismo e colocando-se em primeiro lugar. Decide abandonar a sua identidade anterior de cuidadora altruísta, rejeitando o papel subserviente da personagem "Amélia sem vaidade" e, em vez disso, abraça uma identidade mais amorosa. Ao dar prioridade às suas próprias necessidades e desejos, rejeita a noção de que o seu valor está ligado ao cumprimento das expectativas sociais de feminilidade.

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o Outro

Hoje ela é Um também

Os papéis de gênero são enfim quebrados, aqueles que são atribuídos a nós mulheres. Nesse verso “Já não quer ser o outro, hoje ela é ‘Um’ também” faz referência a um conceito formulado por Simone de Beauvoir no livro Segundo Sexo, no qual ela discorre sobre a posição da mulher na sociedade, na posição de Outro do homem, sendo ela um ser humano incompleto comparado ao homem e a partir do seu olhar. Porém logo que tornando-se “Um” a mulher não é mais limitada aos papéis a ela atribuída por uma sociedade patriarcal, machista e misógina, ela torna-se dona de si mesma.

 

A despeito de tanto mestrado

Ganha menos que o namorado

E não entende o porquê

Tem talento de equilibrista

Ela é muitas, se você quer saber

Nesta estrofe da canção, a crítica é dirigida aos salários persistentemente mais baixos pagos às mulheres em comparação com os dos homens. Os movimentos feministas há muito que se debruçam sobre esta questão, mas, apesar dos progressos, ainda há muito espaço para maiores avanços. A canção também critica a tripla carga que as mulheres enfrentam, uma vez que são frequentemente responsáveis por trabalhar fora de casa, cuidar das suas famílias, gerir as tarefas domésticas, incluindo as compras de mercearia e as limpezas, bem como arranjar tempo para si próprias. A letra chama a atenção para o facto de que, mesmo com o progresso, ainda existem questões sociais profundamente enraizadas que contribuem para o tratamento desigual das mulheres em vários aspectos da vida.

Hoje aos 30 é melhor que aos 18

Nem Balzac poderia prever

Depois do lar, do trabalho e dos filhos

Ainda vai pra night ferver

Disfarça e segue em frente

Recorrendo à intertextualidade, a compositora comentam as transformações socioculturais vividas pelas mulheres nas últimas décadas. Faz referência ao romance de Honoré Balzac "A Mulher de Trinta"[8], que discute como uma mulher com mais de 30 anos era considerada velha e já não era desejável no século XIX. No entanto, a compositora argumenta que já não é assim, uma vez que as mulheres na casa dos 30 anos têm atualmente tanta vitalidade como quando tinham 18 anos. Isto realça a importância de desafiar os papéis e expectativas tradicionais de gênero que muitas vezes limitam todo o potencial das mulheres. Balzac escreveu no seu romance, "A divindade que molda os nossos fins é feminina. Quando considero o vigor que anima o corpo de uma mulher, a inteligência que ilumina a sua mente, o espírito que dirige as suas ações, não consigo encontrar nada de masculino nela." Este excerto sublinha a necessidade de reconhecer e valorizar as forças inerentes às mulheres, em vez de as enquadrar em construções sociais limitadas.

Simone de Beauvoir escreveu, "Um homem nunca é definido como um indivíduo de um determinado sexo; é evidente que é um homem. Os termos 'masculino' e 'feminino' são usados simetricamente apenas como uma questão de forma, como em documentos legais. Na realidade, a relação entre os dois sexos não é exatamente como a de dois pólos eléctricos, pois o homem representa tanto o positivo como o neutro, como o indica o uso comum de homem para designar os seres humanos em geral; enquanto a mulher representa apenas o negativo, definido por critérios limitativos, sem reciprocidade". Esta ideia sublinha os preconceitos de gênero generalizados que ainda existem hoje em dia e recorda-nos a necessidade permanente de lutar pela igualdade de gênero e pela capacitação.

Do meu ponto de vista, o uso da intertextualidade é uma forma influente de escritores e artistas comentarem a mudança de papéis e expectativas das mulheres na nossa sociedade. Ao tecer referências a obras como "A Mulher de Trinta", de Balzac, e "O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir, recorda-nos os padrões e preconceitos de gênero que ainda hoje existem. É importante reconhecer como estes padrões podem limitar o potencial das mulheres e desafiar as normas tradicionais de gênero para capacitar os indivíduos independentemente do seu gênero.

Acredito que a chave para alcançar a igualdade de gênero reside no reconhecimento e na valorização das forças e do potencial inerentes a todos os indivíduos, independentemente do seu gênero. Temos de lutar por uma sociedade mais justa e equitativa, onde os indivíduos sejam livres de perseguir os seus objetivos e sonhos sem medo de discriminação ou de normas sociais limitadoras. É uma longa jornada, mas sinto-me encorajado pelo progresso que fizemos até agora e pelos esforços contínuos de indivíduos e comunidades em todo o mundo que estão a trabalhar para um futuro mais igualitário e justo.

 

Todo dia até cansar

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa, assume o jogo

Faz questão de se cuidar

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o Outro

Hoje ela é Um também

 

 

Desse modo, atingimos o famoso conceito de desconstrução. A música superou os costumes da sociedade que a limitavam e impediam de alcançar seus objetivos, tornando-se dona de si mesma. Estuda, trabalha e gosta de conviver com os amigos, sem que a idade seja vista como um obstáculo. Alcança a liberdade que todas as mulheres deveriam ter o direito de almejar.

Através da transformação da personagem “Amélia” [9] ,assistimos à evolução dos papéis tradicionais de gênero e das expectativas para as mulheres. Como Mario Lago compôs na canção original, "Amélia" foi inicialmente retratada como desprovida de qualquer sentido de interesse próprio ou vaidade. Esta representação reflete o papel social limitado que se esperava que as mulheres cumprissem no passado

“Amélia não tinha a menor vaidade

Amélia que era mulher de verdade

Amélia que era mulher de verdade

Não tinha a menor vaidade”. Mario Lago, 1942

No entanto, à medida que a personagem de "Amélia" evolui para se tornar um símbolo de poder e independência, vemos como as expectativas da sociedade mudaram para reconhecer e valorizar a força e a capacidade de ação das mulheres. Quer seja a preparar delicadamente uma refeição ou a tomar decisões com confiança enquanto concilia o trabalho e os cuidados pessoais, "Amélia" representa a mulher moderna e com poder que se recusa a ser condicionada por papéis ou expectativas de gênero limitadores.

O que vemos em comum entre estes textos, para além da simples discussão das experiências das mulheres, é a luta por uma vida melhor e mais forte, cheia de amor, desde o amor-próprio ao amor romântico. A mensagem de procurar a liberdade através da desconstrução e da quebra de clichês e expectativas sociais serve como um lembrete de que, mesmo que não seja fácil ou direto, é possível.

Nunca é demais sublinhar o poder da escrita feminina para desafiar e quebrar os estereótipos de gênero. Através da literatura e da música, as mulheres têm conseguido exprimir o seu "eu" autêntico e desafiar as expectativas e normas da sociedade. As obras de autoras feministas como Bell Hooks e Simone de Beauvoir, e a música de artistas como Pitty Leone, têm sido fundamentais nesta luta. Chamaram a atenção para a desigualdade de tratamento das mulheres e para a necessidade de quebrar os clichês de gênero que há muito limitam o potencial das mulheres. Ao escrever e criar arte que reflete as suas experiências e perspectivas, as mulheres são capazes de desafiar e subverter os papéis tradicionais de gênero e exigir igualdade de tratamento e representação. É através deste desafio e da quebra que podemos criar uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para todos.

 

Ler as obras destas mulheres foi verdadeiramente inspirador e revelador para mim. Lembrou-me o poder da escrita e da arte para desafiar os padrões e as normas de gênero, e a importância de dar voz àqueles que foram historicamente marginalizados ou silenciados. Através da literatura de autoras feministas, e da música, compreendi mais profundamente a luta contínua pela igualdade de gênero e o papel fundamental que a expressão criativa desempenha nesta luta.

Estas obras ensinaram-me a reconhecer os estereótipos e preconceitos de gênero omnipresentes na nossa cultura e a trabalhar no sentido de desafiar e quebrar estas normas na minha vida pessoal e profissional. Também me recordaram a importância de amplificar as diversas vozes e perspectivas, não só nas nossas representações artísticas, mas em todos os aspectos da nossa sociedade.

Em síntese, a leitura das obras destas mulheres foi um poderoso lembrete da luta contínua pela igualdade de gênero e do papel vital que a expressão criativa pode desempenhar nesta luta. Estou grata a estas mulheres pela sua coragem, força e perspicácia, e continuarei a aprender e a inspirar-me no seu trabalho.

 

 

 

REFERÊNCIA

 

 

Análise “desconstruindo Amélia”, - https://www.letras.mus.br/blog/desconstruindoamelia-analise/ acessado em 20/11/2023

Beauvoir, S. de (1949). O Segundo Sexo. Editora Nova Fronteira. Acessado em 19/11/2023

Biografia Pitty Leone, disponível em -https://www.ebiografia.com/pitty/ - acessado em 19/11/2023

ed. São Paulo: Cortez; 1993

 Balzac, H. de (2011). A mulher de trinta. Traduzida por Ellen Marriage. Edição Kindle.

Hooks, Bel. (1994). Ensinando a transgredir: A educação como prática da liberdade. Editora Martins Fontes. Acessado em 19/11/2023

 KOCH, Ingedore G.Villaça. Argumentação e linguagem/Ingedore G. Villaça Koch. 3.

Letra Desconstruindo Amélia, disponível em https://www.letras.mus.br/pitty/1524312/ acessado em 19/11/2023

United Nations. (n.d.). Dia Internacional da Mulher. Recuperado em 7 de setembro de 2021, de https://www.un.org/en/observances/womens-day/origins-history. Acessado em 21/11/2023

Woolf, V. (1938). Three Guineas. Hogarth Press.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



¹ Graduanda em Letras pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus Jequié.

² Estereótipos: é uma impressão fixa que pode resultar da aparência, do vestuário, do comportamento, da cultura de uma pessoa, entre outros fatores. É uma presunção sobre determinadas pessoas baseada em generalizações de situações passadas, muitas vezes sem relação com o presente, e por vezes sem compreender grupos sociais ou características individuais como aparência, situação financeira, comportamento, sexualidade, etc.

[3] Estereótipos de gênero: são crenças simplificadas e pré-determinadas sobre características e papéis típicos atribuídos a homens e mulheres com base apenas no seu género. Estas crenças são muitas vezes demasiado simplificadas e baseadas em normas sociais, representações mediáticas e papéis tradicionais de género. Os estereótipos de género podem ser prejudiciais, pois podem restringir as escolhas, experiências e oportunidades dos indivíduos com base na sua identidade de género e reforçar a desigualdade e a discriminação.

[4] "Desconstruindo Amélia" é uma música da cantora/compositora de rock brasileira Pitty. A música critica os papéis tradicionais de género atribuídos às mulheres e as expectativas sociais colocadas sobre elas para que cumpram constantemente os papéis de cuidadoras, educadoras e apoiantes, sem ter em conta os seus próprios desejos e necessidades. A letra expressa a necessidade de desafiar e quebrar esses papéis e estereótipos, permitindo que as mulheres abracem sua complexidade e individualidade. A música tornou-se um sucesso no Brasil e é considerada um hino feminista.

[5] Um dia mundial para celebrar as conquistas sociais, económicas, culturais e políticas das mulheres e para sensibilizar para a desigualdade entre os sexos e para a luta pelos direitos das mulheres em todo o mundo.

[6] O termo "multitarefas" é frequentemente utilizado para descrever os papéis e as responsabilidades que as mulheres assumem frequentemente no seio da família e do agregado familiar, equilibrando várias tarefas ao mesmo tempo, como cozinhar, limpar, cuidar dos filhos e trabalhar fora de casa. No entanto, este termo também tem sido criticado por sugerir que as mulheres devem ser responsáveis pela realização de múltiplas tarefas em simultâneo sem o devido apoio ou reconhecimento.

[7] O empoderamento das mulheres refere-se ao processo de proporcionar às mulheres as ferramentas, os recursos e as oportunidades necessárias para alcançarem a igualdade de género e realizarem o seu potencial. Isto inclui o acesso à educação, aos cuidados de saúde, à igualdade de remuneração e a posições de poder e influência em todas as áreas da sociedade. O empoderamento tem tudo a ver com a criação de um mundo onde as mulheres são capazes de perseguir os seus objetivos e sonhos sem medo de discriminação ou limitações baseadas no seu gênero.

[8] "A Mulher de Trinta", de Honoré de Balzac, é um romance que explora as expectativas e os preconceitos da sociedade em relação às mulheres do século XIX. A história segue a vida de Julie, uma mulher de 32 anos que é considerada fora de moda e já não é desejável. Através das experiências de Julie, o romance critica os papéis estreitos e limitadores atribuídos às mulheres na sociedade e questiona o valor atribuído às mulheres com base apenas na sua idade e beleza.

[9] "Amélia" é um clássico do samba brasileiro composto por Mario Lago na década de 1940. A canção conta a história de uma mulher chamada Amélia, que é descrita como uma esposa dedicada e cuidadora de sua casa. A letra retrata Amélia como altruísta e desprovida de qualquer sentimento de interesse próprio ou vaidade, refletindo as expectativas sociais colocadas sobre as mulheres naquela época. Embora a canção tenha sido criticada por seu retrato das mulheres, ela permaneceu uma canção popular e duradoura na história da música popular brasileira. 


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